Um olhar para o jornalismo das pequenas e médias cidades
Recentemente, aqui mesmo, procurei abordar a experiência de acompanhar, estimular parcerias e colaborar com o jornalismo local. Nestas décadas de Atibaia, tive muitos momentos bons, médios e ruins nesse trabalho, desenvolvido a partir da assessoria de imprensa. Lembro quando comecei tendo de falar com um juiz, depois de criticar a “lentidão” da Justiça. Ou quando “bati boca” com um delegado de Polícia por conta também de uma matéria.
A proximidade numa cidade pequena ou média é algo positivo e negativo ao mesmo tempo. Você conhece suas fontes de notícias, suas qualidades e defeitos, quando não os podres. Mas deixemos para lá. Nesta semana, abrindo a minha bíblia virtual Observatório da Imprensa, criado pelo grande jornalista Alberto Dines, deparei com um artigo, com excelentes colocações sobre o jornalismo local, assinado por Carlos Castilho, graduado em mídias eletrônicas, com mestrado e doutorado em Jornalismo Digital e pós-doutorado em Jornalismo Local.
No contexto da pandemia, ele faz um balanço das dificuldades do jornalismo local, em muito refletindo a minha trajetória e a de outros colegas que passaram pela mídia de Atibaia. Segundo Castilho, “o meio jornalístico é normalmente quase bucólico nas pequenas e médias cidades, mas muda rapidamente quando algum interesse local político, financeiro ou familiar é questionado. Quando isto acontece, a guerra é declarada e travada com uma intensidade que surpreende os profissionais das metrópoles, onde os conflitos provocados por informações divergentes são quase diários”. Pura verdade, meus amigos.
“O jornalismo local é visto com um ar de contido desdém pelos profissionais dos grandes centros justo porque é considerado como uma atividade sem grandes emoções, quase burocrática, um empreendimento familiar. É uma impressão gerada pelo desconhecimento da realidade local, que possui dois níveis, um, superficial, geralmente tranquilo, e outro mais escondido, quase sempre dissimulado, onde lidar com notícia e informação é uma atividade de alto risco”, acrescentou Castilho. Pois é, gente.
O autor alerta que a atividade jornalística em pequenas cidades precisa merecer das organizações profissionais de âmbito nacional uma atenção muito maior porque a atividade informativa local ganha cada vez mais importância no novo perfil da mídia noticiosa em ambiente digital. “Até agora, a imagem pública da imprensa se confundia com a dos grandes veículos jornalísticos das regiões metropolitanas, mas isto está mudando rapidamente por conta da crise dos jornais e a tendência à descentralização na produção noticiosa”. Bom sinal, meu povo.
O artigo de Carlos Castilho traz outros aspectos, até mesmo mais graves, mas aqui pretendo entrar aos poucos nesta seara. Muitos personagens estão vivos. Entre os aspectos, estão o jornalista local como “bode expiatório”, pagando o preço por defender o livre fluxo de informações, e a cobrança direta, física e pouco cordial por parte de cidadãos que se sentem às vezes prejudicados. Nos últimos anos, os cuidados com processos foram redobrados, mas as ameaças continuam presentes.
Por Luiz Gonzaga Neto