A identidade na era da internet, segundo um filósofo
Filosofia, sociedade, tecnologia. A programação do “Fronteiras do Pensamento” mobiliza as tendências, as ideias e as visões de mundo em transformação. Parte da mídia dá importância para isso, outra nem liga. Na era das mídias sociais, todos reafirmam suas identidades e gostos em inumeráveis posts e, diante disso, o filósofo francês Gilles Lipovetsky foi convidado a explicar como esses murais virtuais revelam mais sobre nós do que pensamos e clamam por um reconhecimento questionável.
Teórico da hipermodernidade e da pós-modernidade, ele é professor de Filosofia e autor de best-sellers. Diz que a consagração do bem-estar triunfa na sociedade pós-moderna e aborda o culto contemporâneo à felicidade em contraposição à rotina veloz e exigente. Anteriormente, havia uma relação de face a face na construção da identidade. Essa dimensão continua existindo, mas agora também existe, graças às redes sociais, a possibilidade de mostrar aos outros diferentes aspectos de nossa vida.
Constatamos que a identidade passa muito menos pelas questões graves que definiam a identidade anteriormente: a política e a religião, por exemplo. É cada vez mais por meio de atividades e gostos culturais que os indivíduos afirmam seu jeito de ser. Eles dizem o que fazem na vida pessoal, o que apreciam, seus desejos. As pessoas postam suas mensagens, suas fotos e recebem “curtidas”.
Muitas pesquisas mostram que as pessoas esperam, em relação a essas postagens, um retorno simbólico e afetivo. A identidade é construída na aprovação, no reconhecimento dos outros. Os indivíduos recebem diariamente uma espécie de alimentação simbólica, que lhes dá certa satisfação: “Eu sou apreciado pelos meus amigos. Tenho um pequeno valor, pois as pessoas gostam daquilo que faço”. Ou seja, a afirmação nas redes sociais, no fundo, se dá sobre bases hedonistas – o prazer, não a dor. Curtiu?