Ainda tem gente que faz acontecer
A luta pela sobrevivência da imprensa escrita é cada vez mais brava e resultado de gente que faz acontecer. Sim, ainda tem gente que faz acontecer. Entre nós, aqui em Atibaia, o Marcio Zago publicou edição comemorativa dos 70 anos do Tentativa, jornal literário que marcou a história de Atibaia e das letras nacionais. A edição saiu encartada no jornal O Atibaiense, no sábado passado. Entre os artigos, estava um pequeno texto deste escrevinhador que vos fala.
Outra recente descoberta no campo cultural foi a revista Quatro Cinco Um, especializada em livros. É possível acompanhá-la na internet, mas meu primeiro contato foi com um exemplar impresso, comprado na banca que fica dentro do supermercado Convém, aqui em nossa urbe.
O próprio jornaleiro, na banca, comparou a revista com a Piauí, que teima em sobreviver. Esse jornalismo de apuração fina, textos elegantes e longos, parece uma espécie em extinção, mas não é. Nos Estados Unidos, tem a revista “New Yorker”, que mantém repórteres levantando um assunto por meses, o ideal de trabalho de qualquer profissional respeitável.
No site da Quatro Cinco Um, tem uma entrevista com o jornalista Jon Lee Anderson, que fez um perfil sobre Bolsonaro para a revista New Yorker. Ele fala dessa sobrevivência de publicações culturais na América Latina, ressaltando que ainda tem gente que faz acontecer.
No mesmo site da revista, encontramos foto e texto sobre a jornalista Jill Abramson, a primeira mulher a comandar o New York Times. Ela construiu sua carreira numa época em que interesses comerciais não se sobrepunham aos editoriais nas grandes redações. Em Merchants of Truth (Simon & Schuster), faz a crônica sombria de um mundo em que arestas éticas foram arredondadas para que corporações sobrevivessem no mundo digital.
Ou seja, o comercial engoliu o editorial. “A receita do que é compartilhável obedece sempre ao apelo emocional ou extraordinário do que se posta, ou seja, tem pelo menos um pezinho na pieguice ou no sensacionalismo. Num caso e no outro, aposta-se em algum aceno facilitador ao público, que pode e deve ser provocado, mas jamais desafiado ou incomodado”. Pois é, isso não faz acontecer.
Por Luiz Gonzaga Neto