Joviano Franco da Silveira, um poeta atibaiense

Para Joviano, não faltou uma tragédia romântica: faleceu seis meses após casar-se com sua grande paixão e eterna musa inspiradora, Mathilde Soares do Amaral.

Márcio Zago

Na linhagem de Joviano Franco da Silveira, tanto por parte de mãe quanto de pai, estão os Camargos, que figuram entre os fundadores de nossa cidade. Intelectual de berço, Joviano, assim como seu irmão Waldomiro Franco da Silveira, deixou um rico legado para a cidade que merece nossas considerações. Um foi historiador competente, autor do livro História de Atibaia, referência para quem deseja conhecer nossa origem histórica; o outro, um escritor talentoso cuja vida foi prematuramente ceifada aos 23 anos de idade. Morrer jovem e de tuberculose parecia ser o destino dos poetas românticos no início do século XX. Para Joviano, não faltou uma tragédia romântica: faleceu seis meses após casar-se com sua grande paixão e eterna musa inspiradora, Mathilde Soares do Amaral.
Nascido em 1894, no início do regime republicano, Joviano não acompanhou as grandes mudanças do país, mas sua breve e rica história literária ficou intimamente ligada à cidade, como não poderia deixar de ser, e ao jornal O Atibaiense, do qual foi proprietário ao retornar a Atibaia para se reabilitar da doença. Foi nesse jornal que Joviano publicou inúmeros artigos, poemas e crônicas, utilizando pseudônimos como Myself, Roberto Nemo, Jacques de Chabannes, Catão, Neto, entre outros.
Joviano foi aluno do Grupo Escolar José Alvim e, posteriormente, interno no Colégio Arquidiocesano, em São Paulo, o mesmo percurso escolar trilhado mais tarde por outro grande poeta atibaiense, o multifacetado artista André Carneiro. Contudo, o lado pouco conhecido de Joviano Franco da Silveira está relacionado ao seu trabalho como historiador. Já enfermo e morando em Atibaia, ele realizou uma pesquisa sobre a educação no município intitulada Resenha Histórica sobre o Ensino Obrigatório em Atibaia. A pesquisa foi elogiada por João Batista Conti, pela qualidade e pela dificuldade que envolvia empreender tal esforço naquela época e nas condições de saúde de Joviano.
Atibaia foi a primeira cidade do Brasil a instituir o ensino público obrigatório para crianças, um fato de grande importância e pouco difundido. Além de historiador, Joviano foi jornalista e filósofo, com um curso incompleto na Faculdade de Filosofia e Letras de São Paulo, interrompido em razão de sua saúde debilitada. No entanto, foi na poesia que ele alcançou o reconhecimento de importantes personalidades. Seus poemas têm um forte apelo existencial e questionamentos sobre a morte, como na poesia “Mais Tarde”:

Nunca almejo honrarias quando as cordas
Da minha harpa de amor languidas firo.
Renome não pretendo, si ao acaso
Traduzo por um verso um meu suspiro.
Escrevo afim de que, passado o tempo,
Ao reler estas rimas com saudades.
Possa rever meus sonhos de criança.
Os amores da minha mocidade…
Entretanto, mais tarde, se alguém ler
O verso que meu peito suspirou,
Dirá sem custo, resumindo tudo:
-Teve ilusões, sonhou, sofreu, amou.

Em sua obra poética, também encontramos referências de seu tempo, como no poema “Fitas…”, que alude ao cinema, então em ascensão. Além disso, encontramos poemas com certo humor, como “O Dinheiro”, que, embora escrito em 1912, permanece atual:

Dinheiro meu gentil que te partistes
Tão cedo de meu bolso, indiferente.
Habita uma gaveta eternamente,
E vivo eu cá na viola sempre triste.
Se lá na férrea burra onde caíste,
Memória do meu bolso se consente,
Não te esqueças daquele apego ardente
Que já nos olhos meus tão grande viste.
E se vires que pode merecer-te.
Alguma cousa, a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio ao despender-te,
Roga aquele que se de ti apossou
Tão logo me devolva… quero haver-te
Quão cedo de meu bolso te levou…

A Biblioteca pública de Atibaia, iniciada por André Carneiro e César Mêmolo Junior, é nomeada desde 1976 de Joviano Franco da Silveira, uma justa homenagem ao poeta genuinamente atibaiense.