Semana Santa
Márcio Zago
No século XX, a primeira comemoração da Semana Santa ocorrida em Atibaia foi em 1904, depois de treze anos sem acontecer. Essa interrupção era comum, uma vez que a celebração dependia do envolvimento da sociedade na sua realização. Em 1907 a Irmandade do Santíssimo Sacramento organizouuma Semana Santaque marcou época. Segundo o jornal “O Atibaiense”, mais da metade dos habitantes da cidade se envolveram nas festividades que, por decreto, era feriado local.
A Semana Santa remete a última semana da vida de Jesus Cristo e começa num domingo anterior a Páscoa (Domingo de Ramos), passa pela Sexta-Feira Santa (dia da crucificação e morte de Jesus) e termina no Domingo de Páscoa, quando se celebra a ressurreição de Cristo.Naquele ano a Semana Santa começou com a benção das palmas, procissão e missa. Na Segunda-feira Santa, à noite, a Procissão do Depósito percorreu as ruas da cidade, levando a sagrada imagem do Senhor dos Passos da Igreja da Matriz até a Capelinha da Saúde (A capelinha ficava no Largo Alegre, atual Praça Bento Paes, e foi demolida naquele mesmo ano, 1907). Na Terça feira Santa, no final da tarde, aProcissão do Encontrosaiu da Capelinha da Saúde, passando pelos passos em direção a Igreja do Rosário, local onde ocorreu o encontro das imagens do Senhor dos Passos com a de Nossa Senhora. Os passos, aqui mencionados, eram pequenos altares montados nos corredores das casas, onde, na passagem da procissão, opadre fazia as orações. Os passos eram em número de sete e realizadas pelas famílias interessadas, que não mediam esforços para embelezar seu pequeno templo de fé.
O ato reconstrói, simbolicamente, o encontro entre Jesus e sua mãe Maria durante a Via Sacra. Na quarta, à noite,ocorreu o Oficio das Trevas, conjunto de salmos, cânticos e preces que remete a escuridão em que ficou a Terra com a morte de Jesus. Na celebração, que remonta a Idade Média, só ficam acessas 15 velas na igreja, que vão sendo apagadas restando apenas uma, a que simboliza Cristo. A Quinta feira Santa começou com uma missa e a exposição da Imagem do Santíssimo Sacramento. O Santíssimo ficava o tempo todo,dia e noite, guardado pelos diversos integrantes das irmandades existentes na época,que se revessavamna tarefa. A noite ocorreu a cerimonia dos Lava-pés. Na representação doze homens vestidos a caráter tinham os pés lavados pelo vigário em referência à passagem bíblica onde Jesus lavou os pés de seus discípulos, simbolizando humildade. Na Sexta feira Santa, à noite, aconteceu o evento mais esperado. Depois do oficio das trevas, começou à cerimônia do Descimento da Cruz. No interior da igreja, em frente ao altar-mor, foi preparado o calvário, contendo a cruz e Jesus crucificado (Uma imagem em tamanho naturale totalmente articulada). João Batista Conti,no livro “Atibaia Folclórica” cita um cenário do século XIX que comumente era colocado atrás da cruz. Na pintura se viam os judeus, de lança em punho, numa atitude ameaçadora à imagem do Nazareno.
Durante esta cerimônia duas pessoas representando José de Arimatéia e Nicodemus, vestidos com mantas, barbas e cabelos postiços, realizavam o ritual da descida de Jesus da cruz. Já depositado numa esquife o corpo de Jesus percorreu as ruas da cidade na chamada Procissão do Enterro. No Sábado de Aleluia ocorreu a Benção do Fogo Novo, momento em que a Igreja mantém-se em vigília à espera da Ressurreição de Cristo. No Domingo da Ressurreição foi à vez da Procissão do Senhor Ressuscitado, finalizado no Largo do Rosário com seu encontro com a imagem da Virgem. Entre todas as cerimonias da religião católica, a Semana Santa é a que traz maior representação simbólica.
O desempenho ritualístico do evento contava, e conta ainda hoje, com inúmeros artistas em diferentes áreas: músicos (bandas que acompanham as procissões, cantoras que representavam a Verônica e as três Marias, corais e demais instrumentistas que sonorizam as missas); o teatro (com a participação de diversos amadores representando os personagens bíblicos); artistas plásticos (elaboração de pinturas e adereço); etc. Essa produção, que envolvia grande número de pessoas, causava forte impacto no público, tocadospela performance estética supervalorizada pelas iluminação a velas e tochas naescuridão reinante na época. Uma mistura deespanto, tristeza e medo, tudo para sensibilizar o espectador mais descrente.