A internet não é terra de ninguém

Recente reportagem do Fantástico deu destaque à rede de pornografia infantil articulada por pedófilos online.

Anna Luiza Calixto

 

A internet que conhecemos é uma fina camada de gelo que emerge de um iceberg bem maior e mais denso onde se articulam redes perversas de pedofilia e práticas criminosas envolvendo imagens e vídeos de crianças.
O programa Fantástico no último domingo (7 de julho) exibiu uma reportagem especial evidenciando como fotos e vídeos de crianças postadas na web por seus pais e familiares estão sendo manipuladas com o uso de inteligência artificial para simular contextos sexuais e eróticos. Ainda, a equipe do programa se infiltrou em salas de bate papo e grupos de mensagem onde são negociadas imagens, vídeos e lives criminosas expondo crianças sendo sexualizadas e abusadas.
O mais lamentável é que, não raro, quem media essa negociação com pedófilos online é a própria família da vítima, revelando sua idade, características físicas e barganhando a exposição da nudez de uma criança. A negociata determina quanto tempo de videochamada vai acontecer e, em alguns casos flagrados pela equipe de reportagem, definem a possibilidade de um encontro presencial com a vítima – em que a violência sexual de forma física aconteceria.
O programa trouxe um importante alerta: muitas das fotos que compartilhamos dos pequenos nas redes sociais podem ser manipuladas e publicadas em perfis, sites e grupos online voltados para satisfazer sexualmente pedófilos que se aprazem com a nudez de crianças. Há quem produza esse tipo de conteúdo propositalmente, mas também há quem poste uma foto da filha de 3 anos na praia ou do sobrinho de 5 anos no escorregador do parquinho sem qualquer objetivo nefasto, sendo vítima de quem navega pela internet à procura desse tipo de conteúdo.
Se você compartilha imagens dos seus filhos ou crianças com quem você convive e não está disposto a renunciar a isso, tome algumas precauções: feche o seu perfil, tornando-o privado, assim você poderá regular quem serão seus seguidores; quem terá acesso aos seus registros familiares. Registros em trajes de banho também devem ser protegidos, principalmente aqueles em que a criança está desacompanhada de adultos.
O Fantástico revelou até as expressões codificadas que tem sido utilizadas por pedófilos nos comentários desses posts como “perdoe, pequena” e “errei, fui Raulzito”, expressões que fazem menção à abusadores sexuais já presos e servem para linkar tais posts às redes de pedofilia.
Proteger a infância significa não condenar o futuro. Plataformas virtuais como redes sociais e aplicativos de mensagens precisam ser mais céleres para derrubar o perfil de tais usuários e encaminhar o acervo de mensagens e trocas de fotos e vídeos para a polícia. Armazenar, enviar, possuir ou compartilhar qualquer material que associe crianças e adolescentes a contextos sexuais e eróticos é crime. Quando uma criança é ferida, toda a humanidade se machuca.