O Circo Teatro Universal em Atibaia

Essa variação vinha de seu fundador, o piracicabano Maximiliano Luiz Bernardi, que participou ativamente da cena artística de sua cidade de origem, atuando na música e principalmente no teatro antes de fundar seu próprio circo.

Márcio Zago

Na história da linguagem circense, o Circo Teatro Universal figura como uma de suas páginas mais marcantes… E por diferentes motivos. Na década de quarenta, o Circo Teatro Universal foi considerado uma das melhores companhias circenses do país, abrigando inúmeros profissionais de diferentes áreas. Seu início ocorreu em 1920 com uma proposta que agradou o público da época, o chamado “palco e picadeiro”, onde a primeira parte trazia as apresentações mais tradicionais do universo circense como acrobacias, equilibrismo, malabarismos e ilusionismo, para em seguida, depois de um breve intervalo, encenar uma peça teatral.
Essa variação vinha de seu fundador, o piracicabano Maximiliano Luiz Bernardi, que participou ativamente da cena artística de sua cidade de origem, atuando na música e principalmente no teatro antes de fundar seu próprio circo.
As apresentações teatrais que Maximiliano Bernardi introduziu em sua companhia ficaram famosas assim como as apresentações musicais que contaram com a presença de Vicente Celestino e duplas como Torres e Florêncio, Tonico e Tinoco, Cascatinha e Inhana, entre outros. A companhia inovou em diversas áreas e foi pioneira ao introduzir o globo da morte em suas atrações.
Antes disso, em 1935, o Circo Teatro Universal passou por Atibaia, fato que só foi possível graças à linha férrea existente na região, facilitando o transporte de sua grande estrutura. No jornal “O Atibaiense”, uma matéria exaltava a companhia como uma das melhores a se apresentar em Atibaia e destacava, além da qualidade do corpo cênico, dos acrobatas e dos palhaços e presença de animais selvagens, que incluía leões, leoas, hienas, lobos, tigres, chacais e a famosa Baby, a elefanta que dançava, tocava gaita e equilibrava-se sobre garrafas.
As apresentações foram um sucesso. Mas além do reconhecimento e da admiração popular, os circos também estavam sujeitos a inúmeras situações nem sempre agradáveis. A fragilidade de suas construções, baseadas em lona e madeira, e a precariedade das instalações, que muitas vezes ocorriam em lugares impróprios, deixavam os circos expostos às mais diversas intempéries climáticas.
Em Atibaia, os antigos jornais corriqueiramente traziam notícias de problemas enfrentados pelos circos em razão das fortes chuvas que sempre foram frequentes na cidade. Um bom exemplo ocorreu com o Circo Jahu, que teve sua infraestrutura danificada por um temporal ocorrido em 1935 (mesmo ano em que aqui se apresentou o Circo Teatro Universal).
Mas, a despeito do grande valor artístico e da fama que possuía, o Circo Teatro Universal também ficou marcado por protagonizar uma das maiores tragédias abatidas sobre o segmento: A Tromba D’água ocorrida em Americana. Corria o ano de 1949 e o circo estava montado numa região privilegiada, no centro da cidade, mas próxima ao rio que corta o município. O terreno murado, que a princípio era uma vantagem à companhia, se mostrou extremamente desfavorável ao se transformar numa “piscina” ao represar as águas da forte tempestade que desabou sobre a cidade. Para muitos não se tratou de uma Tromba D’água (como entrou para a história), mas sim de um forte ciclone, com chuva e vento que destruiu parte da cidade. Uma das maiores tragédias naturais ocorridas em Americana até hoje, quase oitenta anos depois.
O circo foi totalmente destruído, levando a óbito duas pessoas da sua equipe, incluindo uma criança de três anos. A tragédia repercutiu no país todo, sensibilizando inúmeras pessoas que acompanhavam com interesse as histórias de superação e heroísmo dos envolvidos. Após algum tempo, com a ajuda de populares e artistas, o circo se refez e trocou seu nome para Circo Teatro Americana em retribuição ao apoio recebido… E assim permaneceu por um breve período. Mas o Circo Teatro Universal nunca mais foi o mesmo.
A tragédia, o avanço da concorrência trazida pelo cinema, pelo rádio e pela televisão, aliado ao cansaço de seu fundador, Maximiliano Bernardi, em razão da idade avançada que já possuía, fez com que o circo trocasse de proprietário. Sem sucesso, suas apresentações finalizaram em 1957. Apesar das imensas dificuldades foram trinta e sete anos de dedicação integral à arte popular, encantando e alegrando a vida de muita gente. Hoje, o Circo Teatro Universal figura como uma das páginas mais bonitas da história da arte circense nacional.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação
autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.