A breve contribuição do maestro Leonello Chiochetti

Seu enorme talento logo ganhou o reconhecimento e a admiração da sociedade local. Sua atuação, porém, foi meteórica.

Márcio Zago

Entre 1910 e 1911, parte da sociedade atibaiense viveu momentos especiais em relação à expressão musical: foi o período em que o maestro Arnaldo de Moura atuou na cidade. Egresso do Circo Clementino, que por aqui passava, Arnaldo de Moura deixou a vida itinerante das companhias circenses e se estabeleceu de forma derradeira aqui.
Seu enorme talento logo ganhou o reconhecimento e a admiração da sociedade local. Sua atuação, porém, foi meteórica. O falecimento precoce deixou a todos perplexos diante da fragilidade e da precariedade da existência, mas seu legado permaneceu nas partituras e nos artigos a seu respeito depositados nas prateleiras do tempo. No início dos anos vinte, Atibaia passaria por situação semelhante.
Desta vez com o músico Leonello Chiochetti. Natural de Lucca, Itália, Leonello Chiochetti nasceu em 31 de outubro de 1882 e no início dos anos 20 se estabeleceu na cidade, também derradeiramente. Ao se estabelecer em Atibaia, o músico passou a ministrar aulas de música, abrindo em abril de 1924 a Escola de Música Santa Cecília, que se especializou no ensino de violino, flauta, piano, violão, bandolim, teoria e solfejo musical. Pouco depoisformou com seus alunos a “Orchestra Santa Cecília”. Para reforçar seus ganhos financeiros o maestro vendia partituras e métodos para violino em sua própria residência e na sua Escola de Música. Nesse período, criou também uma forma de envolver a camada social mais abastada do município através da venda de cupons de empréstimo para a compra de instrumentos musicais para a sua recém-formada orquestra. Uma das informações a seu respeito publicada no jornal “O Atibaiense” informava: “Do Senhor Maestro Leonello Chiochetti, agente de músicas aqui residente, recebemos um artístico catálogo do “Premiato Studio Artístico de Incisione e StamperiaMelalli”, de Petrio Landi, de Milão.
Esta casa é especialista na fabricação de medalhas, distintivos, miniaturas e placas diversas, aceitando o maestro Leonello qualquer encomenda a respeito”. Como se vê, o maestro mantinha uma intensa atuação em relação a tudo que se relacionava à música. Segundo a tese “Música em Atibaia: Uma História Possível”, do maestro Daniel Guimarães Nery publicado em 2008, “LeonelloChiochetti foi também regente e criador da Orquestra do Cine Central. A principal função desta orquestra era acompanhar os filmes mudos e tocar no saguão antes de começar a sessão. O repertório dessas orquestras era normalmente eclético, indo do erudito (trechos de óperas, operetas e aberturas) ao popular (choros, valsas e maxixes). A orquestra era formada por um violino (a cargo do próprio LeonelloChiochetti), piano, dois clarinetes e baixo.
Os maestros da Corporação 24 de Maio, Juvêncio da Fonseca, e da Banda 1° de Março, Sebastião Peranovich (Sebastião Perano), eram os clarinetistas da Orquestra do Cine Central (…)”. Ainda segundo a pesquisa de Daniel Nery, LeonelloChiochetti foi pioneiro na cidade a sobreviver somente da música, tirando dela o seu sustento, pois não foi encontrado nenhum outro registro ou documento atestando que Leonello trabalhava em outra função a não ser a música. Mas como Arnaldo de Moura, ele também atuou por um curto espaço de tempo na cidade. O maestro faleceu em 1926 deixando muitos amigos e admiradores. E assim como Arnaldo de Moura, o maestro Leonello Chiochetti deixou uma obra interrompida pela fatalidade da vida e a certeza de que Atibaia poderia ter sido ainda mais interessante em seu rico histórico cultural.