A arte fotográfica de Atibaia no início do século XX

Márcio Zago

Como já mencionado em artigos anteriores, o inicio do ramo fotográfico em Atibaia está diretamente ligada àcidade de Bragança Paulista. Era de lá que vinham a maioria dos profissionais da área. O anuário de Bragança de 1902, de José Máximo Pinheiro Lima, na sessão Indústrias e Profissões,registrava a existência de dois fotógrafos na cidade: Arthur Centini e José Abrahão. Ambos estavam sempre nas festas que ocorriam em Atibaiaa fim de oferecer seus serviços. Em 1905 surgiu outro fotógrafo bragantino que também passou a frequentar a cidade. Segundo “O Atibaiense” trata-se do “distinto artista fotógrafo” Carlos Montmanm. Mais tarde Ângelo Lafalce, também de Bragança, passou a trabalhar por aqui. Mas não era só de Bragança que vinham os fotógrafos de fora. Por aqui aportaram também J. Moreira Barros, de São Paulo e LydioHerme, de Piracaia.
Um destaque de Piracaia foi o fotógrafo Tetê Brandão, que realizou um primoroso registro de sua cidade nessa época. Com a popularização da fotografia logo surgiram os primeiros ateliers fotográficos em Atibaia, como de Calixto Rinaldi, Alfredo André, João Salles, Guilherme Hasse e mais tarde do próprio José Abrahão,levando a uma crescente procura pela área, a ponto de surgirem os primeiros anúncios no jornal “O Atibaiense” vendendo máquinas fotográficas e outros acessórios como lentes, malas, obturadores, prensas e tripés.
Neste período a fidelidade na reprodução da imagem era de fundamental importância, qualidade expressa na nitidez da foto. Esse aspecto favorecia o caráter documental da fotografia e afastavaa preocupação artística, tendo o argumento de que a fotografia não passava de um processo mecânico, onde o artista não expunha sua inventividade. Essa lógica começou a mudar com movimento pictorialista, que nasceu já em meados do século XIX e passou a ver a fotografia como arte, onde o fotógrafo era designado como um pintor através da utilização das luzes e sombras que compunham o cenário para fazer uma fotografia.
Esse movimento foi um marco na história da fotografia, visto que pregava e dava inteira importância para a criatividade e a manipulação das fotografias que podiam ser tiradas a partir das câmeras.Seu maior expoente foi o fotógrafo Alfred Stieglitz, que nasceu em Nova Jersey, em 1864. Stieglitz encarava a fotografia como uma obra de arte e acreditava que sempre havia o momento exato para se fotografar determinado assunto. Muitos fotógrafos compartilham e aderem até hoje essa convicção, como fez o famoso fotógrafo Cartier Bresson.Naquele momento os estudiosos franceses da segunda metade do século XIX dividiam osfotógrafos entre fotógrafos-artistas efotógrafos-industriais, em razão dessa dicotomia.Difícil precisar se havia em Atibaia qualquer preocupação a esse respeito, uma vez que a sobrevivência na profissão era a prioridade, mas não é difícil deduzir que os chamados fotógrafos-industriais sobressaíam aos fotógrafos-artistas.
Talvez Calixto Rinaldi tenha sido o fotógrafo que mais se aproximou dessa segunda opção. Calixto foi um artista que também se enveredou pelo teatro, criando a Sociedade Dramática, que teve forte atuação no teatrinho local. Calixto também viajou para a Itália procurando se aprimorar na linguagem fotográfica. Mas infelizmente tudo isso fica na especulação, uma vez que não há (até o momento) qualquer material que confirme essa hipótese. As fotografias existentes desse período são, em sua maioria, de Alfredo André e estão devidamente preservadas, assinadas e datadas. Uma preocupação que, parece, não teve Calixto Rinaldi.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.