Fim da Sociedade Dramática

Márcio Zago

Este texto dá continuidade a história do teatro de Atibaia no inicio do século XX. O grande sucesso do ano de 1908 foi a peça “Casado com a Sogra”, não só pelo espetáculo apresentado, mas porque foi com ela que o Teatrinho do Mercado recebeu iluminação elétrica pela primeira vez. Uma novidade na época. O espetáculo seguinte foi “A Prova do Crime”, também com a recém-criada Sociedade Dramática, tendo a liderança de Calixto Rinaldi.
Semanas depois outro espetáculo é encenado: o drama “Glórias ao Trabalho” e a comédia “A Noiva e a Égua”. O destaque foia participação de Elvira de Camilli, que já havia participado da peça anterior. A atrizfazia grande sucesso nos palcos paulista. Embora as apresentações teatrais contassem esporadicamente com artistas profissionais, a maioria dos atores que se apresentavam no Teatrinho do Mercado eram amadores locais que se aventuravam na arte da representação, como ovelho conhecido dos palcos atibaianos, Antônio de Almeida. Alexandre e Nieves Paganelli, os grandes responsáveis pelo Grupo Dramático Carlos Gomes, já não residiam em Atibaia desde a extinção do grupo.
A partir de abril de 1908 o casal mudou temporariamente parao município de Nazaré com a função de reorganizar a antiga Sociedade Dramática João Caetano, grupo nazareano que há muito tempo estava desativado.A partir do mês seguinte não encontramos mais nenhuma referencia sobre a Sociedade Dramática, indicando sua extinção. O nome de Calixto Rinaldi, principal responsável pela manutenção do grupo, também não aparece mais ligado ao teatro.
O período coincide com seu envolvimento com a fotografia, quando realizou a primeira exposição fotográfica de Atibaia. Esse trânsito entre diferentes áreas de expressão era comum em alguns artistas da época como Alfredo André, Jerônimo Momo e o próprio Calixto Rinaldi. O próximo nome que surgiu ligado ao teatro de Atibaia foi do português Castro Fafe. José Antônio de Castro Fafe era zelador da capelinha de Santa Cruz (que existiu onde hoje se encontra a Praça Miguel Vairo). Católico fervoroso, a peça teatral que encabeçou, em agosto de 1909, foi para levantar recursos para a reforma da capelinha.
Chamou então Alexandre e NievesPaganelli, Antônio de Almeida, Ernesto Neves, Pedro Palhares, Castro Neves e Alfredo André, além do vigário Juvenal Kohly e a banda musical União da Mocidade. Uma superprodução! No espetáculo duas comédias: “O 30 das 8” e “30 botões”, tendo no intervalo poesias declamadas pelo jovem Ernesto Neves.
O anúncio da peça chamava a atenção para a última cena, onde duas jovens vestidas de branco empunhariam cada qual uma bandeira (de Portugal e do Brasil) acompanhadas do próprio Castro Fafe, que pronunciaria um discurso 9 quadras especialmente para a ocasião.
No mês seguinte outro espetáculo foi anunciado, desta vez em benefício da Conferência de São Vicente de Paula (não confundir com a Vila São Vicente de Paulo, que surgiu em 1930). Foram apresentadas as comédias: “Doidos com Juízo” e “Um Julgamento em Samouco”. As últimas apresentações teatraisque ocorreram no Teatrinho do Mercado foram realizadas de forma independente, com lideranças emergenciais. Somente em maio de 1910 o jornal “O Atibaiense” publicou uma convocação que visava à formação de um novo grupo dramático na cidade. A intenção era retomar as apresentações mensais. Assunto para a próxima semana.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.