O primeiro cinema de Atibaia e a concorrência

Márcio Zago

Depois de inaugurado, em dezembro de 1911, o Pavilhão Recreio Cinema teve uma atuação bastante intensa durante todo ano de 1912. A grande aceitação do público pela casa permitiu queseus proprietários realizassem uma série de melhoramentos, tanto no espaço físico, como na programação do primeiro cinema de Atibaia. Logo de inicio o prédio ganhou dois potentes ventiladores elétricos e um novo motor para acionar os projetores.
A eletricidade ainda era novidade e a nova casa de espetáculos gabava-se de possuir suas instalações servidas por este moderno recurso. Se por um lado a eletricidade favorecia o empreendimento, por outro era constantemente prejudicado por ele. Eram comuns os acidentes que interrompiam a transmissão elétrica na cidade. Acidentes ocasionados pelas fortes chuvas, pela paralização dos geradores na usina ou pela queda depostes, sempre obrigando os proprietários a suspender as exibições.
Outra benfeitoria, que logo se transformou num atrativo da casa, foi a construção de umpequeno palco,que chamavam de “Sala Nobre”, espaço que ganhou destaque com o caprichado pano de boca pintado por Leopoldino da Silva Preto, artista plástico conhecido como “o coração de Jesus”. Neste palco ocorreram inúmeras apresentações cênicas e musicais durante todo ano, como o Grupo dos Bororós,grande sucesso da época, ou então a apresentação dos artistas portugueses Theobaldo Linoe seu irmão, que apresentaram cançonetas, transformações e paródias. As fitas cinematográficas, a principal atração da casa, eram constantemente atualizadas e com o tempo determinados gêneros ganharam a preferencia do publico.
As películas religiosas tiveram um reforço depois de uma noticia publicada no jornal “O Atibaiense” informando que o Papa Pio X havia permitido o cinema nas igrejas como meio de educação de moral religiosa. Estabelecia, porém, algumas condições: retirada do Santíssimo e sua respectiva custódia; separação das cadeiras em sexo; exame prévio das fitas pelo bispo diocesano e a presença de um padre em todas as projeções. O filme “Jerusalém Libertada” foi um grande sucesso neste gênero, mas outros estilos eram exibidos como dramas, comédias, naturais, históricos, biografias, etc.
As fitas que mais ganharam destaque e aceitação do publico naquele inicio do cinema como entretenimento e espaço socialforam: “Rolando” (longa metragem de mil metros que exibia mais de 2.000 figurantes em cena); “Tomada da Bastilha”; “Lucrécia Bórgia”; “Romeu e Julieta” e outros. As sessões aconteciam as sextas, sábados e domingos e tinham sempre o acompanhamento musical dos artistas locais ou então, numa ocasião especial, artistas de fora como da Banda Ítalo-brasileira que executou belíssimas valsas acompanhando as projeções do dia 01 de maio.
Aos domingos, três horas da tarde, ocorriam às disputadas matinês para a criançada, onde eram distribuídos bombons e brinquedos aos pequenos espectadores. O sucesso alcançado pelo novo cinema numa cidade carente de entretenimentotrouxe a admiração de muitos moradores de Atibaia, mas também o ciúme e a cobiça em outros tantos.
Não demorou e logo surgiram os primeiros anúncios para a instalação de um novo cinema em Atibaia. Em agosto de 1912, menos de um ano depois de inaugurado o Pavilhão Recreio Cinema,“O Atibaiense” publicava: “Sabemos de boa fonte que brevemente será montada nesta cidade mais um cinematógrafo, estando para esse fim constituído uma sociedade com capital mais que suficiente para a sua manutenção e funcionamento. Como estamos em maré de progresso é bem fácil que possa se manter nesta cidade, com toda comodidade, duas casas desse gênero de divertimentos”. Manter um cinema na cidade já era difícil, imagina dois… Assunto para a próxima semana.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.