O desenvolvimento das artes plásticas no município
Uma espécie de agenciadora de artistas, provavelmente sediada em São Paulo, na qual Alfredo André passou a ser seu representante em Atibaia.
Marcio Zago
As primeiras décadas do século XX foi o período de urbanização de Atibaia. Tempos da chegada do telefone, da luz elétrica, da construção do Grupo Escolar e da instalação da fábrica de tecidos da Cia Têxtil São João, empreendimento que mudou de vez os destinos do município. Alguns artistas da cidade perceberam a mudança e se anteciparam. É o caso de Alfredo André, nosso primeiro multifacetado artista. Em 1906, portanto um ano após a inauguração do Grupo Escolar, ele abriu um espaço no Largo Municipal para vender molduras para os trabalhos escolares daquela escola. Mais tarde, em 1909, vendo a demanda da elite local em eternizar sua própria imagem, passou a representar a “Chicago Portrait Company”, que trabalhava com manufatura de retratos em crayon, pastel, sépia e perla.
Uma espécie de agenciadora de artistas, provavelmente sediada em São Paulo, na qual Alfredo André passou a ser seu representante em Atibaia. Outra forma dos artistas plásticos da época ganharem dinheiro era através da execução de retratos e bustos de personalidades da época. Neste caso o trabalho era realizado por artistas de fora da cidade e que já possuíam certa fama na área. Em geral eram feitas subscrições para financiar as obras, onde os cidadãos interessados contribuíam com diferentes quantias. Um bom exemplo são os trabalhos deixados pelo artista Benedito Calixto em Atibaia. Assunto já abordado em artigo do mês de abril. Esse trabalho só passou a ser feito por um artista da própria cidade bem mais tarde, a partir dos anos vinte do século passado com o escultor e desenhista Yolando Mallozzi.
Em 1902 a Câmara de Atibaia encomendou ao artista Paft o retratoa óleo do recém-falecido capitão José Alvim de Campos Bueno. A inauguração solene se deu no ano seguinte com a participação dos alunos do Grupo Escolar, discurso do Aprígio de Toledo e apresentação da banda de música do Juvêncio Fonseca. Em 1906 a Câmara Municipal compra do artista Agnelo Corrêao retrato do Dr. Jorge Tibiriça, que também foi inaugurado com toda solenidade. Jorge Tibiriçafoi um importante politico da época. Mais tarde foi a vez do Major Juvenal Alvim ter seu rosto eternizado num retrato a óleo. O quadrofoi instalado na sala da Diretoria do Grupo Escolar José Alvim com direito a solenidade de praxe. Na mesma época outra obra também foi colocada no Grupo Escolar, desta vez na entrada do prédio: o busto de Cesário Motta, também pago por subscrição.
Cesário Motta foi médico, politico e conceituado educador. Como curiosidade fica o fato de que nessa época já havia “pichadores” e seus algozes. É o que diz uma notinha de 1904 do jornal “O Atibaiense” com o título “Borradores de parede”. O texto diz: “Pedem-nos para chamarmos a atenção da polícia, dos senhores Intendentes e fiscais, a fim de porem cobro a uma malta de desocupados que tem por costume borrar e riscar paredes de prédios e muros, escrevendo palavras indecentes e desenhos indecorosos próprios de indivíduos sem educação e sem moral. A polícia cabe investigar e dar caça a esses malfeitores aplicando-lhes o castigo que incorrem esses meliantes que além do prejuízo que causam aos proprietários também à moral pública, que muito sofre”.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.