Novos modelos são necessários para garantir acesso à alimentação para todos

Wagner Casemiro

 

Repensar estrategicamente o papel da agricultura familiar dentro das políticas de desenvolvimento rural no período pós-pandemia é uma das propostas que integram o mais recente capítulo da edição 28 do Boletim de Política Social (BPS), publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Dedicado ao tema do Desenvolvimento Rural, o capítulo, dividido em três partes, analisa a trajetória das políticas voltadas para a agricultura familiar dentro de um contexto governamental, legislativo e pandêmico. A última parte traz um exercício propositivo ao inserir o tema da agricultura familiar em um cenário pós-Covid. A iniciativa interessa ao governo federal, estadual e municipal.
Para os autores, é fundamental que sejam criados mecanismos específicos para a agricultura familiar para que ela dê as respostas necessárias; caso contrário, a população brasileira poderá ter dificuldades no acesso à alimentação. Ao longo da pandemia, o mundo experimentou a alta nos preços dos alimentos, segundo levantamento da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O estudo publicado no BPS ressalta que, no Brasil, durante a pandemia, itens essenciais da cesta básica de alimentos registraram altas ainda mais expressivas do que o índice de alimentos, de 14,1%. No acumulado de 2020, destaca a publicação, o feijão preto, por exemplo, subiu 45,4%; o leite, 26,9%; o arroz, 76,0%; a carne, 18,0%; e a batata, 67,3%. O capítulo enfatiza ainda que esses e vários outros itens básicos da dieta brasileira encareceram o acesso à alimentação em contexto de perda de rendimentos do trabalho por efeito da pandemia.
A pandemia evidenciou a necessidade de termos uma política de abastecimento no país. Em função da inflação de alimentos, a assombração da escassez surgiu para os brasileiros. Diante dessa urgência e do momento de incerteza, o governo se viu com o dever de reativar políticas públicas, canais e programas que eram voltados para a agricultura familiar.
Nessa conta, é necessário calcular também o custo com combustível, logística, do armazenamento, da perecibilidade do produto e da própria qualidade dos alimentos. No interior do país isso é muito claro, mas a relação entre agricultor e o consumidor é mais visível. Para os pesquisadores, as políticas específicas, além de gerar renda e ocupação que são prioritários no desenvolvimento rural, devem contemplar também a produção de alimentos saudáveis, orgânicos, de abastecimento das cidades.

* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.