MANUEL BANDEIRA

Meus caros leitores. Na coluna desta semana vou me referir a um tema bem diferente dos que estou costumado a tratar.

O assunto é um poeta. Manuel Bandeira, um dos mais admiráveis poetas brasileiros.

Bandeira nasceu em Recife em 19 de abril de 1886. Portanto, hoje, se estivesse entre nós, completaria 136 anos. .
Além de poeta, ele foi Professor de Literatura, ensaísta e crítico de arte. Teve uma participação importante na Semana de Arte Moderna que ocorreu em São Paulo em fevereiro de 1922, e que foi uma verdadeira revolução na cultura e arte brasileiras.
Os principais temas de sua obra são: a paixão pela vida, a morte, o amor, o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância. A casa de seu avô materno Anttônio José da Costa Ribeiro, que morava na Rua da União, no centro de Recife, foi citada no poema Evocação deRecife, como “a casa de meu avô”.
Em 1890, Manuel Bandeira viajou com sua família para o Rio de Janeiro e lá passou a residir, Ingressou então num dos mais conceituados colégios do Rio de Janeiro. O Colégio D. Pedro II
Em 1903, o poeta mudou-se para São Paulo, onde ingressou na Escola Politécnica para fazer o curso de Arquitetura. Mas no final do primeiro ano letivo teve de abandonar os estudos por ter contraído tuberculose. Voltou para o Rio de Janeiro onde tentou se curamas não conseguiu. Viajou então em 1913 para a Suíça e internou-se no sanatório de Cladavel, onde conviveu com o poeta francês Paul Eluard que o colocou a par das inovações que ocorriam na poesia da Europa naquela época. Conversaram então muito a respeito da inclusão do verso livre na poesia, isto é, verso sem rima, uma característica que passou a ocorrer na poesia de Manuel Bandeira e que fez dele um mestre da poesia modernista no Brasil.
Com o início da primeira guerra mundial em 1914, Manuel Bandeira, completamente curado da tuberculose, retornou ao Rio de Janeiro.
Em 1917, publica A Cinza das Horas, seu primeiro livro,que tem características das tendências tradicionais da poesia brasileira, o Parnasianismo e o Simbolismo que não aceitavam o verso livre.
Em 1921 conhece Mario de Andrade e por influência dele participa da Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Manuel Bandeira vai cada vez se engajando mais no ideário da poesia modernista. Em 1924, publica Ritmo Dissoluto.A partir de 1925, escreve crônicas para jornais nos quais faz críticas de música e cinema. Em 1930 publica Libertinagem, obra em que apresenta poemas com as mais modernas inovações da poesia modernista.Nesse livro incorpora vários temas relacionados com o folclore e a cultura popular.
Em 29 de agosto de 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, passando a ocupar a Cadeira número 24. Nesse ano publica Lira dos Cinquenta Anos Em 1948, Mafuá do Malungo.
Em 1957 viaja novamente para a Europa onde permanece por quatro meses. Publica vários livros dos quais se destaca Estrela da Vida Inteira.
Para que meu caros leitores possam apreciar melhor a poesia de Manuel Bande, selecionamos  o poema abaixo, publicado no livro Estrela da Vida Inteira

PROFUNDAMENTE

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas, luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvimais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.

Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé dasfogueiras acesas?
─ Estavam todos deitados
Dormindo profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver a festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Teotônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

─Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Algumas considerações sobre o poema

Quanto à forma, o poema apresenta características da poesia modernista. Linguagem simples e versos sem rima.
Quanto ao conteúdo, no início do textoaparecem algumas lembranças do eu-lírico vividas n noite de São João quando ele tinha seis anos e não pôde ver o final da festa porque tinha dormido ( verbo no sentido denotativo, literal). Então, ao acordar de madrugada toda a alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras das pessoas daquela época tinha desaparecido porque elas estavam dormindo profundamente (sentido conotativo do verbo dormir (morrer), e isso causou também angústia no eu-lírico.
Trata-se de um poema que utiliza palavras simples para expressar temas profundos como a saudade provocada pela morte das pessoas que conviveram com o poeta.