Redução da mortalidade materna: médico do HUSF enfatiza importância da gravidez planejada
Dr. Attilio Brisighelli Neto destaca que 90% dos óbitos maternos são evitáveis.
A situação mais crítica está na África Subsaariana, responsável por mais da metade dos casos de mortalidade materna – e quase um terço dos óbitos ocorre no sul asiático. Porém, a situação brasileira ainda está distante de promover satisfação aos órgãos indicadores. Embora tenha se comprometido a reduzir a mortalidade materna para 30 em 100 mil nascidos vivos até 2030, o maior país da América do Sul ainda apresenta números heterogêneos, variando estatisticamente entre as desiguais regiões do território.
“Morte materna é definida como o óbito da mulher que ocorre durante a gravidez até o período de 42 dias após o parto, em razão de doenças obstétricas ou complicações clínicas pré-existentes à gravidez”, explica o Dr. Attilio Brisighelli Neto, médico com ênfase em saúde materno-infantil do Hospital Universitário São Francisco na Providência de Deus, antes de enfatizar a importância do planejamento do período de gestação para a redução da alarmante estatística.
“Calculamos que 90% dos óbitos maternos são evitáveis. Portanto, toda mulher que pretende ter filhos deve planejar a gravidez, procurando, com antecedência, o atendimento do ginecologista e obstetra, responsável por realizar o rastreio pré-concepcional mediante uma sequência de importantes exames”, frisou Dr. Attilio, que é mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.
Confira abaixo entrevista com o Dr. Attilio Brisighelli Neto:
Comunicação Husf: Quais as principais causas dos óbitos maternos?
Dr. Attilio: As principais causas são hipertensão arterial (pré-existente, pré-eclâmpsia e eclâmpsia), hemorragias e infecções. E, aqui, não estão contabilizadas as sequelas que mulheres podem adquirir após uma complicação de sua gestação. Além disso, estima-se que, para cada óbito, exista 7 a 8 mulheres com sequelas pelo resto da vida.
Comunicação Husf: Quais os grandes desafios que o Brasil tem que superar para atingir o compromisso de reduzir a mortalidade materna para 30 em 100 mil nascidos vivos até 2030?
Dr. Attilio: O Brasil precisa garantir que as equipes responsáveis pelo pré-natal das mulheres forneçam um atendimento de qualidade, aliado à infraestrutura hospitalar adequada. Quando o País oferecer boas condições de trabalho a todos os profissionais da saúde – aumentando vagas de maternidades e UTIs para gestantes e puérperas e facilitando exames (laboratoriais ou de ultrassom obstétricos) –, principalmente nas regiões distantes dos grandes centros, daremos um grande passo rumo ao cenário ideal.
Comunicação Husf: Quais cuidados as gestantes devem receber no período pré-natal e puerperal?
Dr. Attilio: Para reverter o quadro em que o Brasil continua inserido, é fundamental a implementação do atendimento pré-concepcional em conjunto com o aprimoramento dos atendimentos pré-natal e hospitalar. A equipe de pré-natal necessita de plena aptidão para a identificação fatores de risco gestacional – que são responsáveis pelo maior número de óbitos
Comunicação Husf: Por fim, quais os conselhos que o senhor tem a oferecer às gestantes que possuem um medo natural frente ao processo de parto?
Dr. Attilio: Toda mulher que pretende engravidar deve planejar a gravidez, procurando, com antecedência, o atendimento do ginecologista e obstetra, responsável por realizar o rastreio pré-concepcional mediante exames sorológicos, avaliações (clínica, metabólica e nutricional), verificação do útero e do ovário (primordial para a detecção de tumores), realização de papanicolau (para prevenção do câncer do colo uterino) e exame de mamas. (para prevenção do câncer mamário). Assim, o médico promoverá uma oportuna discussão de riscos, que pode envolver a troca de medicamentos – adotando os devidamente indicados para minimizar riscos gestacionais. Assim, a mulher tem a oportunidade de cumprir a gestação de forma segura, evitando uma tragédia.
Dr. Attilio Brisighelli Neto é médico com ênfase em saúde materno-infantil do Hospital Universitário São Francisco na Providência de Deus. Graduado pela Universidade São Francisco (1982), é mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (1998) e tem ampla experiência em medicina fetal, perinatologia, gestação de risco, ultrassom em ginecologia e obstetrícia, colposcopia e patologia cervical e infecção perinatal.