Suicídio e adolescência: reflexões e sugestões
A depressão representa uma das causas mais frequentes entre adolescentes
Embora as discussões sobre suicídio tenham obtido mais espaço nos últimos anos, ainda temos muito a caminhar no sentido de desmistificar o assunto. Dados estatísticos mostram como o suicídio entre adolescentes vem aumentando e ainda não estamos preparados para olhar pra isso com a atenção necessária e urgente.
A depressão representa uma das causas mais frequentes entre adolescentes, pois o quadro depressivo pode ficar marcado por sintomas do tipo rebeldia, irritabilidade, mau humor, inquietação e isolamento. Entre os sintomas depressivos mais associados ao suicídio estão a desesperança, a incapacidade de enfrentar e resolver problemas, baixa energia, baixa autoestima, baixo rendimento escolar, insônia ou sono demais, sentimentos de culpa, uso de drogas e álcool, medos, ansiedades, pensamentos negativos e ideações suicidas. Muita atenção também às frases depreciativas de si mesmo como “Eu não sirvo pra nada “ ou “Eu não aguento mais essa vida”. Alerta ainda maior para tentativas não consumadas!
Alguns Transtornos Afetivos como a Bipolaridade e Transtornos de Personalidade como Borderline também representam causas importantes e devem ser observadas e acompanhadas. Não existe um perfil único de jovem propenso ao suicídio. Esse “perfil adolescente”, que os rotula como todos iguais, pode fazer com que a família não olhe com mais atenção para o seu filho nessa fase crítica do desenvolvimento.
Chamo a atenção para o fato de que as famílias, especialmente os pais, muitas vezes, não estão se comunicando de forma interessada e honesta. Muitos deles estão preocupados com suas próprias vidas, seus possíveis novos relacionamentos, até mesmo suas novas famílias ou simplesmente estão muito ocupados ou distraídos para enxergar seus filhos em tempo de ajudá-los com suas dores.
Porém, não basta apenas identificar estes possíveis sinais. É fundamental buscar ajuda profissional de psicólogo e psiquiatra. Estes profissionais podem atuar em conjunto para que a dor seja aliviada o quanto antes, com ajuda de um medicamento, quando necessário – pelo psiquiatra e pelo acolhimento do adolescente e exploração dos possíveis motivos ou causas que levaram a este estado de sofrimento – pelo psicólogo. Da mesma forma, a família também deve receber esse acolhimento, apoio e orientação.
Não entenda estes sintomas como se o adolescente estivesse simplesmente fazendo drama ou querendo chamar atenção. Suicídio é um ato de desespero extremo, em que a pessoa não vê saída para se livrar da sua dor. Fortalecer o vínculo afetivo com a família, amigos e a comunidade – igreja, escola – pode ajudar muito.
Por fim, se ainda assim, se toda essa rede de apoio estiver falha ou o adolescente sentir que ninguém naquele momento pode ajudá-lo, é possível recorrer a um serviço como o CVV – Centro da valorização da Vida, que realiza apoio emocional e preventivo, atendendo gratuitamente todas as pessoas que desejarem conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas, todos os dias.
Fica aqui uma dica para diminuir as distâncias entre pais e filhos: pergunte ao seu filho o que ele pensa a respeito deste tema e pergunte a si mesmo se você está fazendo realmente o seu melhor como pai ou mãe.
Por Nice Cassiri
Psicóloga Clínica e Hospitalar
Crp – 06/45073-6