Idosos investem em satisfação emocional e evitam a “descida ladeira abaixo”

Luiz Gonzaga Neto

É uma notícia muito auspiciosa no sentido do diálogo entre gerações: na edição deste ano, 4,5 milhões de pessoas se inscreveram para o Enem, que teve como tema da redação

“Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”.

O melhor: 17 mil idosos se inscreveram para a prova.
“É sem dúvida um tema necessário e urgente. O Brasil envelhece rápido e, enquanto aumenta o número de idosos, o país precisa valorizar mais sua população idosa. É urgente que mais e melhores políticas públicas sejam ofertadas para essa população, com mais dignidade e acesso a direitos duramente consquistados e previstos no Estatuto do Idoso”, comentou a ex-prefeita da capital paulista Luiz Erundina.
Em outra frente, Laura Carstensen, psicóloga e professora da Universidade de Stanford, também fundadora e diretora do Stanford Center on Longevity (Centro de Longevidade de Stanford), concentrou sua pesquisa inovadora nas mudanças motivacionais e emocionais que ocorrem ao longo da vida. Ela é a criadora da influente Teoria da Seletividade Socioemocional (Socioemotional Selectivity Theory – SST). Conforme seu entendimento, o envelhecer faz com que muitas pessoas mudem suas prioridades. Em vez de focar na aquisição de novas informações ou em redes sociais mais amplas, priorizam objetivos emocionais significativos e investem em relacionamentos e atividades que tragam satisfação emocional.
Segundo a pesquisadora, a mudança motivacional ajuda a explicar por que os idosos tendem a experimentar níveis mais elevados de bem-estar e afeto positivo, apesar de perdas físicas ou cognitivas. Tornam-se mais seletivos, com foco em interações sociais de alta qualidade e significado, como as familiares e de amigos próximos, em vez de redes sociais menos íntimas. Na palestra “Older people are happier”, a pesquisadora citou como contexto o aumento da expectativa de vida, a diminuição da taxa de fecundidade e os efeitos de tais questões na cultura. Assim, quebra o preconceito de que a velhice seria necessariamente uma “descida ladeira abaixo”.
“Envelhecer traz, na verdade, melhorias notáveis: aumento do conhecimento, de ‘expertise’; e outros aspectos da vida também melhoram”, afirmou a professora. Com a consciência de que não se tem mais “todo o tempo do mundo” (prática estoica do memento mori – seja em que idade for) as pessoas tendem a se apegar menos a assuntos triviais; sentem maior aceitação da tristeza; compreendem as injustiças com compaixão e sem desespero; e direcionam recursos cognitivos (como atenção e memória) para as informações mais positivas.