Economia do cuidado continua importante mas pode ser mais valorizada
Nem sempre foi valorizada. Mas, aos poucos, essa atividade vem recebendo reconhecimento e remuneração. Numa acepção ampla, engloba ações desempenhadas, gratuitamente ou não, por pessoas que se dediquem a prestar serviços orientados à satisfação de necessidades físicas ou psicológicas de terceiros bem como à promoção da criação e desenvolvimento de crianças, jovens e idosos. Podemos colocar nesse contexto profissões relacionadas a alojamento, alimentação, saúde, educação, assistência social, serviços pessoais e serviços domésticos. Lembro-me de uma tia, que nunca se casou mas que sempre serviu diversos núcleos da família.
No âmbito da economia dos cuidados, estão por exemplo o trabalho doméstico, remunerado ou não (invisibilidade), o serviço prestado por cuidadores de idosos e pessoas com deficiência, os serviços prestados por profissionais de saúde em centros hospitalares bem como os serviços prestados no âmbito de creches e berçários. Nas famílias, costuma ser prestado por familiar, de forma gratuita, sendo pessoas excluídas de estatísticas oficiais. E, mesmo num nível individual, são vistas como desenvolvendo “um trabalho menor ou mesmo um não-trabalho”, o que leva à desvalorização social.
Segundo Iuri Gregório de Sousa, em artigo na internet, “o tema suscita ainda a questão de desigualdade entre gêneros, pois as mulheres perfazem a maioria dos trabalhadores dos cuidados, principalmente nos trabalhos domésticos. Estatisticamente há uma evolução lenta, mas constante, no sentido de haver maiores condições de igualdade no mercado de trabalho para homens e mulheres; entretanto, os números ainda são bastante desfavoráveis às mulheres. Supõe-se que a maior causa dessa desproporção de oportunidades seja decorrente da herança cultural de uma época em que ao homem era reservado o dever de prover o lar e à mulher o dever de manter a casa. Nessa visão, o trabalho do homem seria de gerador de valor e o trabalho da mulher seria algo estéril, sem qualquer significação econômica”.
A invisibilidade e desprestígio do trabalho não remunerado envolvido na economia do cuidado provoca consequências materiais impactantes na vida dos que se dedicam a essa atividade. Recentemente, na discussão sobre a reforma previdenciária, havia muitos defensores da ideia da igualdade de tempo de aposentadoria para homens e mulheres, ponto de vista que ignoraria a realidade dos lares brasileiros, em que mulheres, em média, despendem mais horas no trabalho doméstico e, portanto, estariam trabalhando mais horas que seus cônjuges, ainda que os dois fossem empregados. Mesmo no caso do trabalho doméstico remunerado, que avançou na equiparação em legislações recentes, é visível o desprestígio que a categoria tem na sociedade.
Como apontou Fernanda Tsuji, em artigo na internet, quem cuida de uma casa sabe que, entre o almoço na mesa e o lavar dos pratos, muitos minutos foram gastos para pensar no cardápio, comprar os alimentos, cozinhá-los, colocar a mesa para, enfim, poder comer. O mesmo vale para deixar as crianças limpas, alimentadas e vestidas na porta da escola todos os dias; varrer a casa, acompanhar os animais de estimação, etc.