As manifestações culturais dos bairros e distritos de Atibaia
Márcio Zago
Se já é escassa a informação sobre as atividades culturais que aconteciam na região central de Atibaia nas primeiras décadas do século XX, mais escassas ainda são as dos bairros e distritos mais afastados. Longe da região central, as informações não chegavam à imprensa local, exceto quando havia algum correspondente que trazia a notícia até o jornal.
Sabemos, por exemplo, que existiu por volta dos anos vinte a Banda Musical do Sr. Paulo Pelegrino, no bairro de Canedos, mas nada consta nas páginas do jornal “O Atibaiense” desse período. Daí a importância do artigo publicado, também no O Atibaiense, por um correspondente de Jarinu em 1928.
A matéria relatava uma comemoração que ocorreu na Sociedade do Mútuo Socorro Gabriele D’Annunzio, um importante espaço cultural jarinuense da época. O município de Jarinu chamava-se Campo Largo até 1911 e foi distrito de Atibaia até 1949, quando adquiriu sua autonomia política/administrativa. Segundo a pesquisa “Travessias – Memórias do povoamento e da imigração de uma cidade paulista: Jarinu”, organizada por Lígia ClaretLorencini Wild, Campo Largo nasceu por volta de 1796 à margem do Ribeirão Maracanã, em território antes pertencente à Vila de Atibaia.
Mais tarde o distrito recebeu inúmeros imigrantes de diferentes nacionalidades, mas principalmente os italianos que fundaram em março de 1920 a Sociedade do Mútuo Socorro Gabriele D’Annunzio. Iniciativa de Guilherme Contesini, Guilherme Zanone, Luiz Bonança, Ítalo Censi, João Baptista Parize e outros.
O nome escolhido para a associação, Gabriele D’Annunzio, homenageava o escritor e polêmico ativista político italiano que virou uma espécie de ídolo dos fascistas. Mais tarde, em 1940, a sociedade foi extinta em razão da Segunda Guerra Mundial. Neste conflito a Itália passou a fazer parte dos países inimigos e seus imigrantes sofreram uma série de restrições como a proibição de falar a língua italiana em público, por exemplo.
O fato de a associação levar o nome de um simpatizante de Benito Mussolini também contribuiu para sua extinção. O legado deixado pela Associação do Mútuo Socorro foi transferido à comunidade que ganhou um espaço para continuar com as festas, bailes, exibições cinematográficas e demais atrações culturais e recreativas.
O prédio, construído totalmente com recursos particulares, comportava aproximadamente duzentas pessoas. A matéria escrita pelo correspondente de Jarinu narrava as comemorações aos oito anos de fundação daquela sociedade. A solenidade começou com a execução do Hino Nacional pela Banda Musical Contesini.
Na abertura do evento falou seu presidente, Sr. João B. Parise, seguido pelo orador Juvenal B. dos Santos. A figura do orador era comum na época e cada cidade, ou comunidade, tinha o seu preferido. Em Atibaia, Aprígio de Toledo exerceu essa função por muitos anos. Após a abertura oficial do evento teve início as atividades artísticas, que começaram com uma apresentação infantil organizada pelos professores José Bonifácio Fernandes, Isabel de Oliveira e Nair Boaventura.
Na segunda parte foram apresentadas duas peças teatrais com atores locais. As comédias foram levadas à cena pelos amadores Alice de Amorim, Tercília Formentini, João Contesini, Antônio Ezilio e Antônio Lorenzini, além de Guilherme Contesini, Lázara Siqueira e Venâncio do Carmo. Nomes que ficaram registrados no histórico cultural do município como uns dos precursores nas atividades artísticas desenvolvidas nos bairros e distritos de Atibaia.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.