Atibaia recebe as companhias identitárias
Márcio Zago
Artigo dá continuidade a história do teatro de Atibaia. Em janeiro de 1908 Atibaia recebeu a Trupe do Senhor Pedro Altieri, formado somente por italianos. A apresentação foi um sucesso em razão da calorosa acolhida prestada pela colônia italiana comparecendo em peso ao Teatrinho do Mercado. Quatro anos depois outra trupe italiana se apresentou. Desta vez a Companhia Dramática Italiana, do diretor e escritor Derone Farinelli. O espetáculo de estréia foi com a peça “Morte Civil” seguida de “A Tosca”. Esta última, a famosa ópera em três atos de Giacomo Puccini, tinha feito grande sucesso no passado recente com a famosa atriz Sarah Bernhardt. Na despedida de Atibaia, a companhia apresentou os espetáculos “O Guarany”, peça brasileira de Carlos Gomes e a italiana “Preza di Trípoli”.Mais uma vez a colônia italiana lotou o pequeno teatrinho da cidade.
Meses depois foi a vez de a colônia portuguesa receber seus patrícios com a Companhia Luso-Brasileira. Num artigo do jornal “O Atibaiense” uma nota esclarecia: “A Companhia Luso-Brasileira está na terra fazendo as delícias deste bom povo que, além de ser religioso em estremo, reparte as horas que está em descanso das orações com o cinema e outros divertimentos profanos. O nosso nobre Benedito (?), também é bastante assíduo aos divertimentos profanos, não obstante possuir um rosário que é mais apropriado em mãos de um abade pelo seu descomunal tamanho; não deixa os bailes e cinemas, aos quais faz seus gorjeios ao belo sexo, do qual é queridinho, causando inveja a muitos mortais! Ah felizardo, em tempos já ascendeu duas velas a santinhos bem perfeitos.
A Companhia Luso é ótima, e seu pessoal corretíssimo, trajando toiletes custosos e de apurado gosto. Os artistas todos da primeira ordem sobressaindo entre eles quatro que são, como na frase do meu compadre Juca da Capela, “donos do aço” (gíria da época). Pena é dizerem seus artistas que é por pouco tempo sua estadia nessa cidade”. Estas companhias teatrais, que também incluíam os circos, formadas por integrantes de uma mesma nacionalidade tinham grande aceitação por trabalhar com nichos de mercado.
Numa época em que a imigração era relativamente recente, espetáculos que abordassem a cultura de determinado país sempre atraía seus compatriotas, ávidos de reviver sua cultura e reascender sua identidade. No caso das companhias que visitaram Atibaia, tanto a italiana como a portuguesa, foram formadas aqui no Brasil por artistas que também eram imigrantes, visando abordar um público específico, na qual tinham grande familiaridade. Mas não eram somente as companhias com formação de estrangeiros que passaram por Atibaia. No mesmo período a cidade recebeu o Pavilhão Minas Gerais, que trouxe uma novidade aos moradores: o teatro de fantoches.
O Grupo Dramático, formado por amadores locais, também se apresentavamcom frequência nos palcos do teatrinho. Em outubro de 1911 uma curiosa nota de jornal chamou a atenção: “Brevemente em nosso teatro será realizado dois ou três espetáculos variados pelo grupo de amadores. Para este fim virá de São Paulo a atriz Julia Lopes, conhecida do nosso público, e a cançonetista Leonor da Silva. Esperamos que o nosso público amante desse gênero de diversões, concorra para tal fim, visto que, o intuito dos amadores é despedir-se do palco do nosso teatro, pois em breve esse edifício passará a ser todo mercado”. Seria o fim do teatrinho? Assunto para a próxima semana.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.