O primeiro recital em Atibaia
Depois de sua formalização, o primeiro recital do Grupo Dramático Carlos Gomes foi com as comédias “Os Dois Surdos”, “Meias Solas e Tacões” e “O Marido Vítima da Moda”.
Márcio Zago
Naquele início de século XX a cidade iniciava a construção do Grupo Escolar, que tomava o lugar do antigo Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento (Cemitério da Fábrica). Ettore Carrieri, inteligente e hábil mecânico de Atibaia, iniciava suas primeiras experiências com a iluminação a gás acetileno, que meses depois seria instalado no teatrinho. Invento que sucumbiu após a chegada da luz elétrica na cidade, em 1907.
Santos Dumont era recebido com festas na capital federal, depois das inúmeras experiências de voo bem sucedidos em Paris (As informações a seu respeito sempre tiveram grande destaque no jornal O Atibaiense). É neste clima progressista que a Sociedade Recreativa Carlos Gomes surge, influindo em diversas ações culturais e recreativas. Com ele o Grupo Dramático Carlos Gomes sedimenta a linguagem teatral no município, sempre com ajuda e participação de destacados membros da elite local.
Depois de sua formalização, o primeiro recital do Grupo Dramático Carlos Gomes foi com as comédias “Os Dois Surdos”, “Meias Solas e Tacões” e “O Marido Vítima da Moda”. O jornal O Atibaiense assim descreveu o evento: “(…) O desempenho foi ótimo. Na comédia “Os Dois Surdos” o Sr. Antônio de Almeida foi um surdo-maníaco às direitas. Desempenhou galhardamente o seu papel. O criado Francisco, desempenhado pelo ator Alexandre (Paganelli) esteve à altura de seu digno interprete, que trouxe a plateia em contínuas gargalhadas. O Sr. (Jerônymo) Momo esteve um bom caçador estabanado. Enfim, tudo bom. Na comédia “Meias Solas e Tacões” salientaram-se o Napoleão Maia que nos proporcionou um verdadeiro beeffe (gíria da época) e o Sr. Antônio Brazil (estreante), no papel de sapateiro. Cooperou muito para o realce da peça o desempenho que deu ao seu papel de matrona autoritária a SraPaganelli.
Na comédia “O marido vítima da Moda” todos desempenharam corretamente os papéis. Sejamos dados, entretanto, salientar no papel de padre José, o intransigente moralista, o Sr. Napoleão Maia que fez com muita naturalidade e o Sr. Antônio de Almeida, que no papel de Antônio deu-nos uma verdadeira vítima dos caprichos de uma mulher. Todos, todos, enfim foram-se muito bem sendo freneticamente aplaudidos pelos senhores sócios contribuintes que enchiam literalmente o nosso velho teatrinho”. O destaque dessa apresentação ficou por conta do acompanhamento musical do maestro Salles Bastos e Juvêncio Fonseca, também destacado na critica do jornal: “Vamos agora ao “bijou”(outra gíria da época), sim, a delicada orquestra da sociedade, sob a magistral batuta do professor Senhor Salles Bastos. Todos sabiam que a sociedade tinha uma orquestra, mas a exibição desta ultrapassou a nossa expectativa, com justiça recebendo ela do público um chuveiro de palmas”. Enquanto o Grupo Dramático Carlos Gomes existiu, a orquestra acompanhou as apresentaçõescênicas, sempre muito elogiadas, revelando-se uma atração à parte…Nos dias de hoje. Quantos grupos amadores de teatro possuem uma orquestra para compor as cenas?
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.