Reflexões de Ano Novo em carta inspirada de mediadora
Luiz Gonzaga Neto
Pensei em “costurar” reflexões pessoais sobre o Ano Novo. Acontece que uma carta inspirada, de Lia Giglio, ao grupo de voluntários do CEJUSC, segurou meus pensamentos. Então, decidi reproduzir aqui trechos do inspirado texto, preservando o sigilo que toda correspondência real e profunda pressupõe. A voluntária fala de experiência com a Covid, mas também de “emocionante bilhete carregado de amor e acompanhado de lindo perfumado buquê de rosas, as mais lindas que recebi”.
“Esta filha única aqui mais uma vez entendeu que não era tão sozinha assim. Que minha família CEJUSC estava me recebendo com flores e muito amor, me desejando rápida e excelente recuperação e enviando mimos em mensagens e ligações, injetando esperanças que se renovavam em meu coração naquele momento difícil e doloroso, para que eu me fortalecesse novamente e assim conseguisse retornar a este trabalho de plantar a semente da paz. Acredito que mesmo uma sessão que não tenha um termo de acordo lavrado ela não é infrutífera, pois preparamos aquela terra (coração) dura; mexemos, tiramos pedras e com o tempo a semente há de germinar, as partes saem diferentes da sessão.
Jamais esqueci aquele blim-blom, que soou diferente. Era a minha família CEJUSC vindo me abraçar e dizer: estamos todos aqui te esperando”, afirmou Lia.
“Como agradecer? Faltam-me palavras e, enquanto escrevo, não dou conta de segurar as lágrimas de gratidão por cada um de vocês que direta ou indiretamente me mostram que não sou mais filha única, para poder dizer que tenho irmãos e amigos que carrego no coração”, acrescentou. Ela fala lindamente de novos arranjos familiares, em que o amor predomina, faltas afetivas se preenchem e “princípios inegociáveis” são estabelecidos. Lia é advogada, especialista em Previdência Social, especialista em Direito Médico e concluindo pós em Mediação, com ênfase em Resolução de Conflitos. Desejando o Mestrado, revela sua paixão que é dar aulas – foi professora por muitos anos e sente saudades da sala de aula. coor
Na carta, Lia Giglio descreve o Dr. Rogério Correia Dias, coordenador do CEJUSC, como “um instrumento de Deus”, na defesa da dignidade e da saúde. “Estamos aqui na estrada”, comentou, antes de dizer que fundou a associação sem fins lucrativos AtiCurando. A entidade recebeu o selo de Utilidade Pública. Lutando com problemas de saúde na família, a advogada tornou-se, na linha dos Doutores da Alegria, “palhaça de hospital”, atuando no Hospital Sírio Libanês e no Hospital São Mateus. “Duas realidades opostas e extremas e um dia pensei: abrirei este trabalho em Atibaia também. Aí, começamos há três anos e logo paramos por conta da pandemia. Temos feito algumas visitas online. Um desses casos é de uma menina de apenas 8 anos que foi intubada e internada, recuperando-se depois da Covid”.
“A retrospectiva que faço agora é como mediadora e da última sessão que fiz: de repente, minha tela ficou lotada de rostos. A ação era de alimentos, proposta por uma filha para a mãe de 93 anos em estado praticamente vegetativo, sendo representada contra seus 8 irmãos. O pedido era de pensão, mas na sua fala ficou claro que a intenção era também de cuidados e presença em visitas dos demais irmãos. Três advogados, total na sala de 12 participantes. Abri aquela sessão com a seguinte fala: uau, que cena linda. Vejo aqui 9 irmãos e uma mamãe; e sou filha única”.
“A sessão restou frutífera para todos os irmãos. Um dos participantes se calou, refletiu e rapidamente desistiu de intentar contra a mediação, que restou frutífera para todos os envolvidos. Como gostaria de lecionar na faculdade sobre mediação! Os advogados, com exceções claro, precisam estar neste momento das partes. Em São Paulo, existe um trabalho de palhaços no Fórum e a proposta é a mesma: humanizar onde existe muita dor, especialmente no caso de crianças que passam por atendimentos psicológicos e com assistente social. Fica a dica para que o Fórum de Atibaia receba a nossa trupe que leva amor e alegria – nossa vitamina diária para uma parceria onde temos por vezes um ambiente hostil. Então, o que eu posso desejar pra minha família CEJUSC? O melhor de Deus! Feliz Ano Novo”, concluiu.