O primeiro espaço exibidor de Atibaia
Marcio Zago*
Como mencionado em artigos anteriores, os primórdios do cinema local estão ligados ao nome de Deoclides de Assis Freire, empreendedor do inicio do século XX que com visão arrojada tornou-se pioneiro em diversas ações que contribuíram para o desenvolvimento da cidade. No embrionário ramo turístico foi o primeiro a abrir uma confeitaria e sorveteria, tendo seu nome associado também ao Hotel Central, e mais tarde,ao Rosário Hotel, iniciativas de vanguarda em diversos aspectos. Ao ver os primeiros aviões cruzarem o céu da cidade buscou trazê-los para cá estabelecendo contato com os aviadores Cícero Marques e Bergman.
A intenção era construir uma pista de pouso e hangares para abrigar os aviões que seriam usados em passeios aéreos entre Atibaia, Bragança e Piracaia. Sensibilizado com as projeções cinematográficas exibidas pelas companhias itinerantes, compra o primeiro projetor do município e pressentindo seu potencial econômico se junta a Alberto de Oliveira, então gerente da Fábrica de Tecidos São João, e fundam em 1910 a empresa cinematográfica Oliveira & Freire. A finalidade era oferecer exibições regulares de cinema. O empreendimento recebeu o nome de “Recreio Cinema” e funcionou por um ano no “Teatrinho do Mercado”, local alugado da Prefeitura e reformado para esta função. O “Recreio Cinema” teve sua estreia no dia 19 de novembro de 1910, mas ainda não era um cinema “de verdade”, e sim um espaço que abrigava exibições regulares de filmes e demais atrações. De grande visão comercial os empresários do Oliveira & Freire, principalmente Deoclides Freire,fizeram do pequeno espaço exibidor um enorme sucesso.
Para aumentar seu rendimento Deoclides Freire, que cuidava pessoalmente do negócio, passou a inserir “reclames” das casas comerciais locais entre as trocas de filmes. Sabe-se agora que estas inserções não eram realizadas diretamente nas fitas, mas faladas ao público presente, por módicos 10$000 por mês. Na programação do “Recreio Cinema” dramas, aventuras, biografias e comédias, e às vezes atrações complementares como do prestidigitador Eduardo Gomes, contratado da capital, ou então da pequena Olga e sua célebre “Dança Serpentina”. Artigos pouco esclarecedores publicados no jornal sugerem que as exibições aconteceram todos os dias da semana por determinado tempo, fato que,se confirmado, seria surpreendente para a época, comprovando a aceitação da elite local pela recém-surgida forma de entretenimento.
Alguns meses após sua inauguração o espaço já passou por nova reforma visando melhor acolher seus “habitués” (os termos franceses eram comuns na época). A reforma pretendia aumentar o tamanho da tela, ocupando toda a extensão do “pano de cena” do antigo “Teatrinho do Mercado”. Pretendia também oferecer acomodações mais confortáveis aos usuários. Com o enorme sucesso alcançado, somados as limitações físicas do lugar (que não permitia sua ampliação), os empresários sentiram-se motivados a construir seu próprio espaço exibidor. Em outubrode 1911 surgiram as primeiras informações sobre o inicio da construção de um novo espaço para diversões em Atibaia, utilizando o termo “teatro”.No dia 24 de dezembro de 1911, uma semana depois da última exibição do “Recreio Cinema” no “Teatrinho do Mercado”, foi inaugurado o primeiro cinema“de verdade” da cidade: o “Pavilhão Recreio Cinema”, iniciativa e obra de Deoclides Freire… Mas isso é assunto para o próximo artigo.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.