Como programas para pais previnem a violência contra crianças
A área de mediação e conciliação envolve diversos segmentos da vida acadêmica e da atuação social. Um exemplo é o artigo, publicado na revista Psychosocial Intervention, que analisa os impactos de programas de parentalidade em grupo na prevenção da violência contra crianças, direcionados a cuidadores para desenvolver relações harmoniosas com crianças por meio de ações eficazes e não violentas. O estudo de Elisa Rachel Pisani Altafim e Maria Beatriz Martins Linhares concluiu que programas desse tipo “são efetivos para melhorar as práticas de cuidadores e diminuir os problemas de comportamento infantil”. A pesquisa acredita que essas iniciativas são importante oportunidade de prevenção da violência, considerando a dificuldade da identificação de maus-tratos a crianças dentro das famílias.
A Organização Mundial da Saúde reconhece que esses programas de parentalidade promovem relações seguras, estáveis e harmoniosas entre cuidadores e crianças. São oferecidos para a população em geral, sem a identificação prévia de riscos. Compreender os efeitos desses programas e seus objetivos pode auxiliar os gestores públicos na identificação de estratégias efetivas de prevenção de violência enquanto políticas públicas. Além disso, para as pesquisadoras, a revisão sistemática sintetiza os principais achados da literatura e sinaliza as lacunas para estudos futuros.
Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo revisar a literatura internacional sobre programas de parentalidade em grupo para prevenção de violência. Foram incluídos estudos sobre programas estruturados que tinham como objetivo aprimorar as práticas parentais dos cuidadores. Vinte e três estudos foram incluídos e 16 tipos diferentes de programas parentais foram identificados. Noventa e um por cento dos estudos foram conduzidos em países desenvolvidos. Todos os programas se concentraram na prevenção da violência e maus-tratos por meio da promoção de práticas parentais positivas. Apenas sete estudos eram ensaios clínicos randomizados. Todos os estudos que avaliaram as práticas parentais verificaram mudanças positivas nas práticas dos cuidadores após a participação nos programas. Os programas também foram efetivos em melhorar o comportamento das crianças em 90% dos estudos que avaliaram esse desfecho.
Os programas de parentalidade que foram utilizados com maior frequência nos estudos foram o Triple P (Positive Parenting Program) e o ACT (Raising Safe Kids) — traduzido para o português como Programa ACT para Educar Crianças em Ambientes Seguros. Os programas de parentalidade tinham objetivos semelhantes como: 1) compartilhar conhecimento sobre o desenvolvimento da criança; 2) promover práticas e habilidades parentais eficazes; 3) incentivar a utilização de comportamentos parentais não violentos; e 4) promover relações harmoniosas entre pais e filhos. Poucos estudos foram realizados em países em desenvolvimento, o que demonstra necessidade de investimentos em avaliações de programas de parentalidade nesses países.
Segundo as autoras, os resultados precisam chegar aos gestores públicos, profissionais da saúde, psicologia e assistência social, pesquisadores e formuladores e avaliadores de políticas públicas. Elisa Rachel Pisani Altafim é psicóloga com doutorado e pós-doutorado em ciências, atuando como professora colaboradora na Pós-Graduação em Saúde Mental e pesquisadora no Lapredes da FMRP-USP. Em 2016, foi pesquisadora visitante na Harvard Graduate School of Education e tem formação em Harvard nos cursos Principles and Practice of Clinical Research e Executive Leadership Program in Early Childhood Development.