Interpretação de textos afeta habilidade social e profissional dos jovens
A média obtida pelos estudantes brasileiros esconde disparidades sociais, que foram abordadas no relatório.
Wagner Casemiro
É uma pergunta difícil de responder, mas há boas pistas para sairmos desse labirinto. A renda e a posição socioeconômica têm grande influência sobre a capacidade de leitura e aprendizado dos jovens – e essa desigualdade é mais acentuada no Brasil do que em grande parte do mundo, apontou a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em seu relatório Education at Glance, divulgado em setembro. Por sua vez, a capacidade de leitura e interpretação de textos afeta a habilidade dos jovens em seu desenvolvimento social e profissional e no exercício da cidadania.
A OCDE utilizou como base comparativa os resultados de leitura do Pisa 2018, o exame internacional aplicado pela entidade em jovens de 15 anos em 38 países-membros e em outras nações. A habilidade de leitura é definida pela OCDE como a “capacidade de entender, usar e refletir sobre textos escritos de modo a conquistar objetivos, desenvolver conhecimento e potencial e participar da sociedade”. Numa escala de 1 a 6, o nível de leitura considerado básico é o 2 – estágio em que os estudantes “começam a demonstrar competências que vão lhes permitir participar de modo efetivo e produtivo na vida como estudantes, trabalhadores e cidadãos”.
A média obtida pelos estudantes brasileiros esconde disparidades sociais, que foram abordadas no relatório. A proporção de jovens da camada mais pobre que conseguiu alcançar o nível 2 em leitura do Pisa foi 55% menor do que a de jovens brasileiros de renda mais alta. Essa disparidade é 26 pontos percentuais superior à média dos países da OCDE, de 29%, onde também se observa desigualdade em leitura entre alunos ricos e pobres.
Apenas um terço (33%) dos estudantes é capaz de distinguir fatos de opiniões em uma das perguntas aplicadas no Pisa. A entidade internacional também manifestou preocupação com o aumento no “abismo cultural” entre estudantes de classes sociais mais avantajadas e os mais pobres em todo o mundo. Enquanto entre os estudantes mais ricos o número de livros em casa se manteve estável entre 2000 e 2018, esse número caiu consideravelmente entre os estudantes mais pobres globalmente. O status socioeconômico segue tendo impacto na vida dos jovens ao diminuir seu acesso ao ensino superior e, desse modo, deixá-los mais vulneráveis ao desemprego, prossegue o relatório.
Outra confirmação: mulheres brasileiras têm, em média, mais tempo de educação que os homens, mas enfrentarem barreiras adicionais no mercado de trabalho. Embora mais mulheres de 25 a 34 anos tenham diplomas do ensino superior do que homens (27% contra 20% em 2018), elas têm mais probabilidade de desemprego do que eles. A OCDE citou que, enquanto 85% dos homens com ensino superior estavam empregados no Brasil em 2018, entre as mulheres com a mesma qualificação essa taxa era de 77%.
Quanto a gastos na educação, o Brasil gastou porcentagem do PIB (5% na época) semelhante à média da OCDE. No entanto, quando se observa o gasto por aluno (da educação básica até o ensino superior), é de apenas um terço da média gasta pelos países da OCDE: US$ 3,2 mil por estudante anualmente, contra US$ 10 mil por estudante na média da entidade internacional.
* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.