Sistema Cantareira: baixa nos mananciais acende alerta sobre crise hídrica que pode afetar Atibaia
Escassez de água que atinge hidrelétricas do país é considerada a maior dos últimos 91 anos. Sistema Cantareira opera abaixo da média histórica para período. Foto: Renato César Pereira/Futura Press/Estadão Conteúdo
O Atibaiense – Da redação
No último dia 28 de junho, o ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, fez um pronunciamento em rede nacional alertando para a grave estiagem que atinge o país, especialmente as hidrelétricas, acendendo alerta sobre abastecimento de água e também para a energia elétrica – que fica mais cara esse mês. E a região de Atibaia também já está em alerta com relação aos níveis dos mananciais de abastecimento, já que tem chovido menos que média.
O Sistema Cantareira tem apresentado queda nos níveis dos seus reservatórios. Em 1º de junho, por exemplo, estava com 47,57% da capacidade, que em um mês caiu para 44,9% (dado de 1º de julho às 9h).
Na comparação com 2020, a situação é ainda mais crítica. Em 1º de julho do ano passado, o sistema operava com 56,29% da capacidade – 11,39% acima que este ano.
O Sistema Cantareira abastece a região metropolitana de São Paulo, mas se estiver em níveis muito baixos, pode afetar Atibaia, já que no caso de uma crise hídrica, pode ser diminuída a vazão de água que vem para o Rio Atibaia. A principal captação de água da cidade está no Rio Atibaia, que se estiver com vazão menor e com nível baixo de água, não permite captar a capacidade total e isso pode afetar o abastecimento feito pela Estação de Tratamento Central.
Em maio, ambientalistas e moradores da região realizaram um protesto na represa Jaguari, contra a crise hídrica que afeta o sistema Cantareira. Em 30 de junho, com o fechamento do semestre, constatou-se que choveu na região apenas 68% do volume esperado.
A estiagem já era esperada para o período, mas o último verão teve chuvas abaixo da média, o que não permitiu que os reservatórios pudessem armazenar mais água para enfrentar esse período de seca que segue até setembro.
Os Comitês PCJ, que são formados pelo Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ), Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ FEDERAL) e o Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba-Jaguari (CBH-PJ1) debateram na semana passada o enfrentamento da estiagem. Na reunião, os membros dos Comitês PCJ referendaram a instituição da “Operação de Estiagem PCJ – 2021” e a criação de um Grupo de Trabalho para a coordenação das atividades.
A decisão de reconstituir o grupo se deve às atuais condições meteorológicas na região, com chuvas abaixo da média e previsões de precipitações para os próximos meses também aquém da normalidade.
E a crise hídrica já está afetando o bolso, pois tem impacto também na conta de energia elétrica. Na terça-feira, dia 29 de junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou o reajuste das tarifas da conta de luz. O valor da Bandeira Tarifária Vermelha Patamar 2 terá o valor de R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos. Esse valor valerá por todo o mês de julho.
O Governo Federal vem realizando campanha de conscientização sobre o uso da água e incentivando a economia. “O Brasil enfrenta o pior período de seca dos últimos 91 anos, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Com isso, os reservatórios das usinas hidrelétricas estão em níveis baixos. Assim, mesmo com o fornecimento de energia garantido, devemos evitar o desperdício. Com isso, reduzimos o valor da conta de luz e também contribuímos para preservar a água dos reservatórios”, diz trecho da campanha federal.
Na noite de segunda-feira, dia 28 de junho, o ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, fez um pronunciamento em rede nacional alertando para a crise.
“O Brasil enfrenta uma das piores secas de sua história. A escassez de água que atinge nossas hidrelétricas — em especial, no Sudeste e no Centro-Oeste — é a maior dos últimos 91 anos”, diz logo no início da fala. Ele continua dizendo que “esse quadro provocou a natural preocupação de muitos brasileiros com a possibilidade de racionamento de energia, como aconteceu em 2001”.
Ele diz que o sistema elétrico brasileiro evoluiu muito e que para enfrentar a situação, “o governo vem atuando em várias frentes, desde o ano passado. Além de monitorar o setor elétrico 24 horas por dia, montamos uma estrutura de governança para coordenar, com rapidez e segurança, as ações dos vários órgãos envolvidos no enfrentamento do atual cenário de escassez hidroenergética”.
O ministro fala de medidas a serem adotadas e diz que “o uso consciente e responsável de água e energia, reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada”.
Também na segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória (MP) 1.055/2021, que permite a adoção de medidas excepcionais e temporárias para otimização do uso dos recursos hidroenergéticos “no enfrentamento da atual situação de escassez de água e de suas consequências na segurança do suprimento energético”.
Desde 2020, o Ministério de Minas e Energia (MME) tem informado que o país passa por um cenário de escassez de chuvas, o que é refletido nos baixos armazenamentos dos reservatórios das usinas hidrelétricas. De setembro a maio, a afluência, que corresponde à vazão de água que chega às hidrelétricas, registrou o pior índice do histórico desde 1931 para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Além disso, não há perspectiva de volumes significativos de chuvas para os próximos meses, comportamento já característico da estação seca.
Diante desse cenário, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu em maio de 2021 alerta de emergência hídrica para a região hidrográfica da Bacia do Paraná, que responde por mais de 50% da capacidade de armazenamento de água para geração hidrelétrica no SIN e abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paranáì.
“Essa situação indica a necessidade de grande articulação entre todos os órgãos e entidades responsáveis pelas atividades dependentes dos recursos hídricos – entre as quais se destacam a gestão dos usos múltiplos da água, a geração de energia, o meio ambiente, a agricultura e os transportes. Essa articulação visa à adoção de medidas excepcionais para preservar a segurança e continuidade do fornecimento de energia elétrica, especialmente durante o segundo semestre de 2021, com a adequada compatibilização entre as políticas energética, de recursos hídricos e ambiental”, diz a nota sobre a MP.