Laboratório prepara alunos para a escrita acadêmica
As variedades de publicação são inúmeras. Ao lado das oportunidades de divulgação das pesquisas, habitam também os desafios que cada área e tipo de público exigem.
Por Luiz Gonzaga neto
“Habilidades argumentativas estão em falta”, diz coordenadora do Laboratório de Letramento Acadêmico da USP. Até porque organização da leitura e prática são chaves para bons textos. Tabita Said escreveu para o Jornal da USP que, na escalada do conhecimento, muitas vezes apenas no final da graduação alunas e alunos se dão conta de que escrever para a academia é uma habilidade que não dominam.
As variedades de publicação são inúmeras. Ao lado das oportunidades de divulgação das pesquisas, habitam também os desafios que cada área e tipo de público exigem. Vi de perto esse problema quando estudei na USP, nos distantes anos 70 do século XX. O bom é que sua elaboração avançou.
“Embora a escrita acadêmica seja permeada por certos códigos linguísticos, o ingresso ao ensino superior amplificou uma deficiência que estudantes já trazem desde o ensino médio. Na língua materna, a experiência de escrita ficava restrita aos gêneros textuais mais comuns aos sistemas de avaliação e vestibulares. Já na língua estrangeira, o ensino de um segundo idioma no Brasil nunca esteve focado em uma escrita adequada”. A constatação é das professoras Marília Mendes Ferreira e Eliane G. Lousada, das áreas de inglês e francês da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em São Paulo. O letramento acadêmico de graduandos e pós-graduandos se dá por meio de sistema de tutoria baseado em feedback.
“O aluno da graduação vai escrever gêneros textuais ou discursivos da academia, de acordo com a habilitação de seu curso. Tradicionalmente, as humanidades escrevem mais, mas na pós-graduação o cenário muda. Todos têm que escrever um produto: uma dissertação, uma tese; algumas áreas atrelam a obtenção do título à publicação de artigos em inglês. Não há produção de conhecimento sem registro escrito”, destacou Marília. No atual modelo de comunicação acadêmica, a internacionalização representa bem mais do que aprender a escrever em outra língua. Compreender e produzir a literatura internacional ampliam a rede de saberes. “Atualmente, não se pode falar em ciência sem lidar com língua estrangeira; seja para ler, publicar, comunicar ou colaborar”, lembra a coordenadora.
Em suas pesquisas internacionais, Marília observou que as publicações acadêmicas em inglês são mais puristas, aceitando menos informalidade e reivindicando estrutura sintática mais pragmática. “A retórica da língua inglesa ainda é aquela do ‘time is money’. Por isso, a ideia de word choice é fundamental. A escolha de palavras que bastam configura exercício de economia, porque a produção acadêmica é atividade econômica cara”.