Redação virtual traz um novo olhar sobre a educação
A pandemia escancarou ainda mais a necessidade de um novo olhar sobre a educação. Além da polêmica entre os defensores de aulas presenciais e aqueles das aulas online, precisamos valorizar os projetos que encontrem soluções criativas para a formação de nossas crianças e adolescentes. O jornal Nexo fez a sua parte ao divulgar iniciativa que reúne 15 jornalistas, produzindo reportagens em diversas cidades do Brasil e mostrando histórias além do eixo centro-sul.
O texto foi assinado por Amanda Pinheiro. “A educação não pode ser tratada de maneira homogênea”, afirmou ao Nexo Joana Suarez, criadora e coordenadora do Lição de Casa. Após uma oficina para cerca de 200 jornalistas independentes de 40 municípios brasileiros, Suarez, de 35 anos, reuniu 15 repórteres e criou a “redação virtual” em julho de 2020, ao observar os efeitos da pandemia de covid-19 na educação e suas consequências na vida dos alunos.
A partir disso, em setembro, o grupo, com colaboradores de dez estados, entre eles, Amazonas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, lançou o site e, desde então, produz uma série de reportagens sobre o tema. A coordenadora do projeto explica que, às vezes, entra ou sai um estado, porque depende da pauta da vez e da disponibilidade do colaborador. E apesar da tentativa de ampliar esse alcance, a cobertura jornalística de educação no país ainda é falha.
“O que eu vejo é que nós, jornalistas, não nos envolvemos. Nesse processo, há uma preocupação maior de pais, professores e das crianças. No Brasil, essa cobertura não pode ser tratada de maneira homogênea, porque as comunidades escolares têm universos completamente diferentes. Então, precisamos dar conta dessa diversidade e das realidades distintas”
Ao longo de cinco meses em atividade, o Lição de Casa buscou olhares mais humanizados sobre essas histórias que quase não são contadas, segundo a coordenadora. “Uma bandeira que eu carrego é a descentralização da pauta nacional. O jornalismo precisa de uma diversidade racial, de gênero, de público e de jornalistas que não são só héteros, brancos, classe média e da região centro-sul, precisamos de uma diversidade regional. A gente não pode mais falar de matérias nacionais sem olhar para o Norte e Nordeste do país, precisamos entender que o Brasil tem uma pluralidade e que o universo de São Paulo não vai contemplar uma história do interior do amazonas”, disse Suarez.
Uma das repórteres, Bibiana Maia, de 31 anos, conta: “Fizemos histórias sobre crianças na idade de alfabetização, mas, por estarmos cada um em um estado, o resultado foi muito mais rico, porque trouxe contextos locais. E fazemos com todas as dificuldades de um projeto que nasce independente e remoto. A gente fez isso tudo de uma forma delicada, humana, respeitando as dificuldades que todos os envolvidos estão enfrentando nesse momento. Então, tive contato com sofrimento de criança, mãe, diretor de escola, cada um com sua batalha, seus motivos para ser contra ou a favor de uma volta às aulas. A gente conseguiu abordar isso de uma forma diferente, acho que porque fazemos um jornalismo mais artesanal”.
Desde setembro, quando o projeto foi lançado, o grupo busca patrocínios e outros recursos para se manter. Inicialmente, eles lançaram um financiamento coletivo com o valor de R$ 15 mil, no entanto, atingiram apenas R$ 4.000. Recentemente, o Lição de Casa fechou uma parceria com o projeto #Colabora, em que os repórteres são remunerados por cada material produzido. Além disso, o grupo foi aprovado em um edital do Jeduca, uma associação de jornalistas que cobrem educação. A partir desse edital, o Lição de Casa vai produzir uma reportagem sobre os efeitos do trabalho infantil na vida escolar das crianças nos estados onde há repórteres do projeto.
Luiz Gonzaga Neto