Como fazer um feliz Natal para as crianças
Um guia do que fazer e, principalmente, do que NÃO fazer com nossas crianças nas festas de fim de ano.
Anna Luiza Calixto
Então é Natal… E o que você fez? Defendeu os direitos de crianças e adolescentes? Denunciou violências? Perturbou o juízo da criançada sendo mais um adulto sem noção nesse mundo? Chegou o momento de reavaliarmos nossos comportamentos e aproveitarmos o ensejo para revisitarmos nossa cartilha do fim de ano, que acompanha nossas piadinhas, comentários e formas de tratar as crianças e os adolescentes que estão ao nosso redor nessas confraternizações de Natal e Ano-novo, além das férias escolares.
Vamos começar pelo que NÃO devemos fazer de jeito nenhum: obrigar a criança a sentar no colo do Papai Noel? Nunca. Qual outra circunstância validaria você colocar a criança que vive aos seus cuidados no colo de um desconhecido completo? Nenhuma, eu espero. Tem muito adulto por aí que faz absoluta questão da tal foto com o bom velhinho. Se você é um desses, entre na fila do shopping e tire sua selfie com o Noel. Não projete na criança seus desejos infantis, porque pode ser que ela não faça tanta questão desse registro quanto você e, pior, que fique muito assustada com essa obrigação repentina. Então vamos parar com isso agora.
Também vamos estabelecer um combinado aqui: se a criança não é obrigada a sentar no colo do Papai Noel, por que seria diferente com você? “Ah, porque ele é meu sobrinho! Comigo não tem problema.” Não tem problema o quê? Obrigar a criança a te beijar ou sentar no seu colo? Se ela se sente à vontade e deixa isso nítido, aí sim tudo bem. Mas não use sua autoridade de adulto pra subentender que ela quer, tá? Sabe aquela coisa: “Ah, mas ela quer sim!!!” Quem disse, você?
Tem mais, vamos prometer um pro outro que a gente não vai abrir a boca pra dizer pra nenhuma criança: “Se você não me der um beijinho eu vou chorar!”. Se eu estivesse no lugar da criança eu diria com todo o amor do mundo: “Então você vai chorar e vai levar essa questão pra terapia pra entender de onde vem esse desequilíbrio emocional por causa de uma rejeição.” Acontece que crianças não costumam ter esse tipo de repertório pra colocar o adulto no lugarzinho dele.
Outro combinado: não vamos (de jeito nenhum) perguntar para crianças sobre namoradinhos – até porque elas não têm idade pra isso – e muito menos fazer comentários sobre o corpo delas. Não estou falando do “nossa, como você cresceu!”, mas sim de sugestões de dietas, indiretas sobre os hábitos alimentares e comentários sobre “como seu corpo mudou.” Por mais que a sua intenção seja de elogiar o menino ou menina, reconheça que existem muitas outras formas de fazer isso: fale sobre como aquela criança é inteligente, engraçada e perspicaz, não que ela emagreceu ou engordou. Essa dica em especial vale para qualquer idade: nada que você vá comentar sobre o corpo daquela pessoa vai ser uma grande novidade que nunca passou pela cabeça dela. Pelo contrário, talvez isso seja inclusive uma questão que não sai da cabeça dela.
Agora que você já entendeu o que não fazer, vamos para as dicas práticas sobre como se posicionar e quais atitudes tomar diante de crianças e adolescentes nas festas de final de ano.
Se você perceber que algum adulto está colocando aquela criança ou adolescente numa situação desconfortável, seja o bote salva-vidas dela. Chegue perto e interfira sem medode ser feliz. Puxe assunto, convide pra comer alguma coisinha na festa, mas tire ela dali. A gente não precisa ser invasivo pra isso, só atento.
Outra dica é conversar com seus filhos ou com as crianças que estão aos seus cuidados antes de vocês entrarem na festa e combinar que está tudo bem se elas não quiserem cumprimentar as pessoas com beijos, que pode ser um aceno, um “oi”, um cumprimento sem que necessariamente haja contato físico.
Um Feliz Natal? Depende de nós e das atitudes que escolhemos tomar. Crianças e adolescentes não dispõem dos mesmos recursos de autoproteção para lidar com o desconforto de alguém que invade teu espaço e desrespeita teus limites. Que nós possamos ser para essa criança o adulto de quem tanto precisamos um dia, quando nós éramosas crianças.