Solução para crise ambiental é social e passa pela transformação coletiva

A ansiedade climática tomou conta de nós neste 2024. As folhas das árvores secaram em Atibaia e acompanhamos notícias tristes sobre frequentes queimadas na Amazônia e no Pantanal, além dos mais de 600 mil desabrigados no Rio Grande do Sul. Os fenômenos são sintomáticos de crise climática de velocidade acelerada, em contraponto com uma transição energética mundial de ritmo lento. Para Julian Manley, professor de inovação social da Universidade de Central Lancashire (Reino Unido), ações locais e pontuais não bastarão para solucionar o problema. Pesquisador dos aspectos humanos da crise ambiental, ele afirmou para o Jornal da Unicamp que a solução para a emergência ambiental não virá de inovações tecnológicas, mas que está condicionada à transformação completa da comunidade global.
Sua pesquisa dedica-se à investigação sobre a maneira como as pessoas enxergam e sentem um mundo cada vez mais quente e imprevisível, atentando para as suas respostas psicológicas e emocionais. A fim de analisar as relações que os indivíduos estabelecem entre si e a forma como se relacionam na sua comunidade, na sociedade e no mundo, Manley usa conceitos de psicologia social, psicanálise e psicologia climática (vertente que trata das ansiedades causadas pela crise ambiental). “Trata-se de uma compreensão holística das nossas reações às alterações climáticas”, define.
Uma questão central norteia sua pesquisa: “Se a ciência diz, e todos os cientistas concordam, que as mudanças ambientais são resultado das emissões de carbono, por que as pessoas não param de usar carro a gasolina, comer carne e viajar de avião?”. A resposta parece estar na complexidade do processo de tomada de decisão do ser humano, indica Manley, destacando a importância das emoções nas escolhas feitas. “Nem sempre há uma correspondência entre o raciocínio intelectual e o sentimento. Se conseguirmos entender que existe essa diferença, talvez possamos trabalhar para aproximar a emoção da razão”.
Entre os mais frequentes sentimentos relacionados à emergência ambiental, disse o professor inglês, estão a ansiedade, o medo, a tristeza e a culpa. Manley conta que, entre os adultos, costuma manifestar-se a sensação de vergonha, por perceberem estar deixando um mundo condenado para seus filhos e netos. O problema surge quando a vergonha, a culpa ou a sensação de impotência levam a pessoa a ignorar ou rejeitar a necessidade de ação. A lentidão das instâncias de poder no tratamento da transição energética, além da intensificação dos eventos climáticos extremos, servem para cristalizar uma postura individualista, impulsionada pelo estilo de vida ocidental. “Muitos dizem saber o que está acontecendo, mas ressaltam não haver nada que possam fazer e, portanto, decidem aproveitar a vida. Isso está eliminando o senso de responsabilidade e o de lugar no mundo”, relatou o professor.