Circo Theatro Landa

No ambiente circense, a organização familiar é essencial e encontra suas razões em aspectos práticos e culturais.

Márcio Zago

Em 1934, Atibaia foi palco de mais uma companhia de grande relevância para a história circense nacional: o Circo TheatroLanda. Respeitado pela organização e pela qualidade de seus artistas, a trupe, segundo o jornal O Atibaiense, permaneceu por três semanas na Praça Aprígio de Toledo, local tradicionalmente escolhido pelas companhias itinerantes da época.
Fundado em 1877, o circo seguiu em atividade por vários anos, mesmo após o falecimento de seu fundador, o artista chileno Thomaz Landa, em 1924. A longevidade da companhia se deve, em grande parte, à estrutura familiar, uma característica comum entre as trupes circenses, que dependem da constante locomoção para sobreviver.
No ambiente circense, a organização familiar é essencial e encontra suas razões em aspectos práticos e culturais. Números como acrobacias, malabarismo e contorcionismo são transmitidos de geração em geração, com os filhos aprendendo diretamente dos pais. Esse aprendizado contínuo forma a base da cultura circense e garante a preservação de suas técnicas. Além disso, a estrutura familiar também contribui para a sustentabilidade econômica da companhia, reduzindo a necessidade de contratação de profissionais externos.
Cada membro da família desempenha múltiplas funções, o que fortalece a viabilidade financeira do circo. Outro fator de relevância é a estabilidade emocional proporcionada pela proximidade familiar. Em um ambiente de constantes mudanças e sem possibilidade de fixar residência, o apoio mútuo dos familiares cria uma rede de suporte essencial para a vida nômade dos artistas.
Em Atibaia, o Circo TheatroLanda se apresentou com um elenco de trinta artistas, entre eles Mr. Faya, famoso por seu número de equilíbrio e acrobacias, Esther, especialista em equilíbrio em arame, Adriano, nos saltos, e as bailarinas Abigail e Aparecida. No time dos palhaços, destacavam-se Thomazinho, Gafanhoto, Aguiar, Faya e Furão, responsáveis por garantir o riso da plateia. A grande atração, no entanto, era o corpo cênico dirigido por Adriano Landa, que reforçava o caráter teatral da companhia, como sugeria o próprio nome “Circo TheatroLanda”. Em uma das apresentações, no entanto, os artistas se depararam com uma reação inesperada da plateia. Segundo O Atibaiense: “Como sempre acontece em nossa cidade, não têm faltado ‘palhaços’ de última hora, que pagam a entrada para se exibirem nas arquibancadas com gargalhadas e piadas grosseiras, perturbando as representações dramáticas do Circo. Por serem dramáticas, e não cômicas, essas peças merecem mais atenção e respeito por parte de alguns. É deplorável a mentalidade roceira de certos ‘engraçadinhos’, que, para dar a impressão de entendidos, assumem atitudes inconvenientes e perdem a compostura que deveriam manter em público…”.Essa algazarra por parte da plateia não era exclusiva das sessões de cinema.
Os circos, principalmente aqueles que traziam espetáculos teatrais, também enfrentavam esse tipo de constrangimento. É provável que fossem jovens (como sugere o texto), e, embora suas atitudes fossem consideradas “deploráveis”, também tinham suas motivações. Em cidades pequenas, onde as opções de lazer eram escassas, o circo e o teatro eram uma das poucas oportunidades de encontro social, tornando-se espaços de convivência e socialização. Esse ambiente, por sua vez, estimulava um comportamento mais relaxado, refletindo o espírito de contestação e busca por identidade, típico da juventude. Participar de brincadeiras, fazer barulho e desobedecer às normas era uma forma de expressão, de se destacar entre os pares. Embora essas atitudes tenham ficado no passado, fizeram parte do processo de formação de público para o teatro e o circo.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.