O palco do Cine República

Seu pequeno palco abrigou importantes nomes do teatro, da música e da comédia, transformando-se num considerável espaço cultural para a elite atibaiana.

Márcio Zago

O Teatro República, fundado em 1926, foi ganhando popularidade com as projeções cinematográficas e logo passou a ser chamado de Cine República. Mesmo assim, seu pequeno palco abrigou importantes nomes do teatro, da música e da comédia, transformando-se num considerável espaço cultural para a elite atibaiana. Em 1933, o República recebeu quatro artistas que mais tarde marcariam a história da cultura nacional. Eram eles Arnaldo Pescuma, Nestor Amaral, Januário França e Príncipe Maluco, nome artístico do comediante João Petrillo.
O fato desses nomes não serem conhecidos na atualidade não significa que tenham pouca importância para o cenário artístico nacional; significa que a preservação de nossa memória cultural é quase inexistente e que pouco sabemos sobre nossos artistas e suas realizações. Arnaldo Pescuma está diretamente ligado ao rádio, que naquele período ganhava popularidade nacional. Exímio cantor de ópera no início de carreira, Arnaldo Pescuma tornou-se um dos mais populares cantores do rádio, apelidado de “Rouxinol Brasileiro”. Gravou discos, atuou em filmes, compôs e foi um dos fundadores da Rádio Educadora Paulista (PRA-6), a atual Rádio Gazeta, de São Paulo. Nestor Amaral fez carreira na Argentina e, nos anos quarenta, participou do Bando da Lua, acompanhando Carmen Miranda pelos Estados Unidos.
Era exímio instrumentista e, assim como Arnaldo Pescuma, também atuou em filmes, compôs e atuou no rádio. Januário França era compositor de renome. Sua música “A Viagem do Genésio”, feita em parceria com Genésio Arruda, foi gravada por Luís Gonzaga. Sobre o comediante Príncipe Maluco, há poucas informações.
Sabe-se que, além da comédia, também compunha e apresentava-se em muitos cassinos pelo Brasil, como no Cassino da Urca, em Poços de Caldas, no sul do Brasil, e no nordeste. O jornal O Atibaiense publicou com destaque a apresentação desses quatro artistas em Atibaia. Com o título “Espetáculo de Arte”, o artigo informava: “Exibiram-se no Teatro República, na noite de sexta-feira última, quatro artistas de renome: Arnaldo Pescuma, o querido tenor da Rádio Sociedade Record, magnífico na interpretação de tangos argentinos; Nestor Amaral, também da Record, exímio em solos de bandolim e canto; Januário França, excelente solista de violão e inegável cantor das emboladas nortistas, da Rádio Cruzeiro do Sul; e Príncipe Maluco, artista nosso conhecido, apreciadíssimo em cançonetas, anedotas e paródias.
Foi executado um programa agradável e variado, ouvindo-se só e em conjunto, os mais recentes tangos, sambas, foxtrotes, canções e emboladas. Tendo os frequentadores do República ensejo de apreciar um conjunto de artistas que há muito receberam a merecida consagração do público, pena que a assistência não foi das maiores. Entretanto, souberam os espectadores aplaudir calorosamente Pescuma, Nestor, Januário e Príncipe Maluco, que foram forçados a bisar vários números.” Nos anos 1930, o rádio emergiu como uma das principais formas de comunicação e entretenimento no Brasil, transformando a vida das pessoas e as dinâmicas culturais, especialmente nas cidades do interior.
Espaços como o República existiam em várias cidades de pequeno e médio porte da região. Eram em seus reduzidos palcos que os artistas de renome, ou em busca de projeção, buscavam a interação com seu público. Era através desse contato direto, além das ondas do rádio, que se criava uma dinâmica única, onde ambas as formas de entretenimento se complementavam e se fortaleciam mutuamente.