O legado de José Bueno Conti (1937-2024), nascido em Atibaia, para o entendimento dos problemas ambientais
A família toda é da universidade e da academia. Quando menino em Atibaia, o Prof. José Bueno Conti já observava as montanhas da região, as luzes de São Paulo como reflexos no céu, a importância relativa do rio Atibaia, imaginando o funcionamento dos mares e do clima. Nos anos 40, acompanhava as notícias da Guerra Mundial, descobrindo que rapazes de Atibaia tinham sido convocados e um deles não voltaria. Aqueles soldados lutavam na neve, algo que o menino gostaria um dia de descobrir.
Parte dessa história o estimado professor José Bueno Conti (1937-2024), falecido aos 87 anos e sepultado no cemitério São João Batista na quinta 9 de maio, contou em entrevista que está na internet. Era solteiro, filho de Aracy Bueno Conti e Antônio Conti, sobrinho de João Batista Conti, nome do Museu Municipal. Foi professor titular da USP e deixou importante obra sobre geografia e meio ambiente, área em que se especializou. Fez a graduação em Geografia pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP (1958) e doutorado em Geografia Física pela mesma instituição (1973). Foi professor titular da Universidade de São Paulo, com experiência na área de Geociências, com ênfase em Geografia Física.
Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o professor exerceu atividades de ensino e pesquisa de 1964 a 2007, atuando depois como colaborador na pós-graduação. Na Universidade, ministrou prioritariamente a disciplina Climatologia na graduação. Nos anos 1964/65, cumpriu programa de aperfeiçoamento em Climatologia na Universidade de Clermont-Ferrand (França), como bolsista do governo francês. Doutorou-se em 1973 e obteve a livre-docência em 1994, estudando temas vinculados à Climatologia. Orientou dezenas de alunos de mestrado e doutorado não só em Climatologia mas em outros setores, tais como geomorfologia, metodologia da geografia, biogeografia, ensino da geografia, etc. Publicou inúmeros artigos em revistas nacionais e dois em periódicos internacionais, sendo autor de dois livros: “Circulação secundária e efeito orográfico na gênese das chuvas na região lesnordeste paulista” (Instituto de Geografia da USP) e “Clima e meio ambiente” (Editora Atual).
Foi sócio-fundador da ABClima (Associação Brasileira de Climatologia) e presidente da entidade no biênio 2006-2008. Em entrevista à revista da associação, ele declarou que, em mais de 40 anos, os estudos de Climatologia tiveram enorme avanço. “Não poderia deixar de destacar o papel do Prof. Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, que revolucionou a Climatologia Brasileira com a introdução da metodologia da análise rítmica proposta em seu artigo ‘Análise Rítmica em
Climatologia’, publicação nº 1 da série Climatologia, editada pelo Instituto de Geografia da USP em 1971. Estabeleceu o conceito de ritmo como sendo ‘a representação concomitante dos elementos fundamentais do clima em unidades de tempo cronológico, pelo menos diárias, compatíveis com a representação da circulação atmosférica regional geradora dos estados atmosféricos que se sucedem e constituem os fundamentos do ritmo’. Esse caminho apontado pelo Prof. Monteiro iria produzir um número enorme de trabalhos que muito ajudaram no entendimento do clima do espaço brasileiro. Sua outra contribuição bastante relevante foi o livro Teoria e Clima Urbano (USP, 1976), que estabelece as bases teóricas para o estudo desse setor da Climatologia e, ainda hoje é importante referência”.
O que o Prof. José Bueno Conti falaria hoje dos problemas ambientais? “Os problemas ambientais devem ser tratados, necessariamente, por equipes interdisciplinares, elaborando estudos integrados, abrangendo em amplo espectro de
especialidades não só das geociências mas também das ciências humanas, dentro de uma visão sistêmica. O complexo geográfico se exprime, antes de tudo, na paisagem, formada indissoluvelmente pelos elementos naturais transformados pelo trabalho humano, razão pela qual o entendimento da paisagem constitui a essência da pesquisa geográfica. A geografia, portanto, deve estar obrigatoriamente presente nos estudos ambientais e, se lembrarmos que, no estudo da paisagem, o clima é o agente exógeno de maior interferência, fica muito claro o papel da climatologia nessa esfera de investigação, em todas as escalas de grandeza. Os desastres ambientais de natureza atmosférica só poderão ser entendidos na sua inteireza se tiverem a colaboração de estudiosos de climatologia, já que é a energia solar e sua difusão na massa atmosférica que dinamizam todos os processos naturais. As excepcionalidades climáticas causadoras dessas catástrofes constituem, hoje, um importante foco de atenção da climatologia geográfica e sua contribuição é da maior relevância”.