O Circo Carlos Hagenbeck
O Circo Hagenbeck foi uma das maiores companhias circenses de todos os tempos, e sua reputação estava associada ao grande número de animais selvagens que possuía.
Márcio Zago
No início de 1929, o jornal O Atibaiense publicou uma série de anúncios do Circo Carlos Hagenbeck. Os espetáculos aconteceriam a sessenta e cinco quilômetros de Atibaia, em Campinas, cidade onde o circo estava montado. Este aparente despropósito se explica em razão da importância da companhia.
O Circo Hagenbeck foi uma das maiores companhias circenses de todos os tempos, e sua reputação estava associada ao grande número de animais selvagens que possuía. Originários da Alemanha, os Hagenbeck fizeram fama à custa da comercialização de animais capturados em várias partes do mundo e fortuna ao abastecer circos e zoológicos.
Carl Hagenbeck, tratado no Brasil como Carlos Hagenbeck, aproveitando-se da experiência familiar, fundou em Hamburgo um zoológico gigantesco. Seus animais também circulavam em exposições pela Europa e Estados Unidos, e logo ganharam novos atrativos. Carlos Hagenbeck foi o precursor na promoção das exposições antropozoológicas, onde seres humanos (considerados exóticos) eram exibidos como animais, uma realização inconcebível nos tempos atuais.
Fundou também um circo em 1887, que durou até 1953. Essa capacidade de fazer fortuna em cima da curiosidade humana fez do Circo Carlos Hagenbeck um dos maiores de sua época.
Entre 1927 e 1929, ele percorreu a América do Sul passando pela Argentina e pelo Brasil. Nos anúncios publicados nos mais importantes jornais da época, o destaque era a grandiosidade da companhia. Com o título “O Grande Circo Hagenbeck virá ao Brasil”, a Folha da Manhã informava que o transporte do circo exigia dois transatlânticos de grande tonelagem, pois possuía mais de duzentos artistas e trezentos animais, além de um anfiteatro com capacidade para seis mil pessoas.
Entre os animais estavam leões africanos, tigres de Bengala, ursos brancos, ursos do Tibete, da Sibéria, elefantes africanos e asiáticos, camelos, zebras, pôneis, etc. No Brasil, o circo percorreu o estado do Rio de Janeiro e São Paulo. Em Campinas, apresentou-se de 05 a 14 de janeiro de 1929 e atraiu inúmeros espectadores das cidades próximas, e provavelmente alguns de Atibaia.
Além dos clichês dos anúncios do circo, o jornal O Atibaiense publicou também uma matéria com o título “A importância da temporada Hagenbeck em Campinas”, que informava: “Quando um dos grandes circos europeus de fama mundial, como é o gigantesco Circo Carlos Hagenbeck, consegue chegar até uma cidade situada relativamente longe dos portos e acesso do país, como o é Campinas, representa isto um acontecimento de importância extraordinária, e não nos restam dúvidas em afirmar que tal acontecimento talvez não se repita nas próximas décadas. As despesas oriundas com a viagem são enormes para Hagenbeck. Por este motivo, é para desejar à empresa – que se apresenta completa e não dividida – que as grandes massas do povo acudam ao seu chamado.
Quem assim fizer sairá com a convicção de que chegou a conhecer um circo cujas exibições suplantam tudo quanto até agora foi oferecido, cujas coleções de animais formam um verdadeiro zoológico e cujo luxo não foi igualado por nenhuma empresa que visitou até agora o nosso país. As representações de Hagenbeck significam alegria, entretenimento e ao mesmo tempo instrução. Esta nos é proporcionada pela apresentação das mais diversas variedades de animais que muitos somente conhecem por descrições ou por ilustrações e agora poderão apreciar de 5 a 14 de janeiro quando Hagenbeck estiver em Campinas (…)”.É difícil determinar com precisão, mas levando em consideração o apreço que a população de Atibaia tinha pelos espetáculos circenses e a eficiente propaganda do jornal, é plausível supor que a elite local compareceu em peso aos eventos realizados em Campinas. Para esses privilegiados espectadores, não faltaram assunto por muito tempo…
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.