Mata Ciliar recebe dois macacos-prego que foram criados como domésticos
A pessoa que cria um animal silvestre como pet, condena esse animal para o resto da vida e, quando ocorre um corte de relação o animal pode entrar em depressão.
Enquanto houver pessoas que compram animais silvestres para serem criados como pets, a biodiversidade brasileira só tem a perder. Nesta semana, em apenas cinco dias, dois macacos-prego foram entregues a Mata Ciliar, com históricos de serem “domesticados”, chegando ao nosso Cras mal alimentados, estressados e traumatizados.
No domingo (1), agentes da Guarda Municipal de Itatiba trouxeram um jovem macho, após receberem o animal de um munícipe que, por sua vez, relatou aos profissionais que o indivíduo foi deixado na porta de sua casa, em uma caixa de papelão e agarrado em um ursinho de pelúcia. Já nesta quinta-feira (5), a Polícia Militar Ambiental de Jundiaí trouxe uma fêmea adulta, após uma entrega voluntária, que permaneceu sob cuidados humanos por seis anos, sendo alimentada com frutas e amendoim.
Ambos possuem comportamentos de animais domesticados, são mansos e acostumados com uma má alimentação. A fêmea está lactante, indicando que, possivelmente, estava prenha. Além disso, por conta do abandono e do estresse passado neste período, também apresentam traumas neurológicos, como a estereotipia, realizando movimentos repetitivos.
“Os macacos-prego possuem comportamento natural de bando e, na natureza, esses animais caçam, se reproduzem e realizam outras atividades da espécie que são saudáveis para eles. Então, quando são criados como pet, sem contato com outros da espécie, eles acabam perdendo completamente esses comportamentos. Dessa forma, dificilmente o animal conseguirá entrar em um bando, em um eventual processo de reabilitação”, explica Giulia Verdini Mencarini, bióloga responsável pelo Cras da Mata Ciliar.
A pessoa que cria um animal silvestre como pet, condena esse animal para o resto da vida e, quando ocorre um corte de relação, como estes dois casos, o macaco-prego por exemplo, pode entrar em depressão também, permanecendo inativo e sem se alimentar.
“Animais de cativeiro, principalmente primatas, são muito suscetíveis a várias doenças que ocorrem em humanos. O manejo alimentar inadequado, por exemplo, pode desenvolver obesidade e, consequentemente, diabetes. Além de doenças transmitidas por humanos, como a herpes”, pontua Rebeca Alves, médica veterinária da Mata Ciliar.
Agora, ambos irão passar por exames complementares, como hemograma e bioquímico, para identificar possíveis alterações imunológicos e, assim, organizar corretamente os próximos passos de seus manejos alimentares, com a introdução de uma nova dieta, e iniciar tratamentosterapêuticos.
MATA CILIAR
A Associação Mata Ciliar (AMC) é uma entidade sem fins lucrativos declarada de Utilidade Pública Federal e que desde 1987 desenvolve diversas ações para a conservação da biodiversidade.
Durante esse período foram diversos desafios enfrentados e conquistas alcançadas sempre em parceria com instituições privadas, poder público e com a sociedade.