Arte e financiamento em Atibaia
Os primeiros registros desta prática que foram encontrados no jornal O Atibaiense datam de 1906.
Márcio Zago
Numa época em que o culto à memória não contava com a profusão de registros fotográficos, vídeos e outros recursos técnicos trazidos pelos meios digitais, o retrato, a estátua, o busto e a herma cumpriam o papel de eternizar as personalidades mais ilustres de seu tempo. Em Atibaia, talvez devido à escassez de recursos públicos, a subscrição financiava essa demanda.
Os primeiros registros desta prática que foram encontrados no jornal O Atibaiense datam de 1906, quando foi aberta uma lista de doação para arrecadar fundos visando o pagamento de um retrato do Major Juvenal Alvim para ser colocado no edifício do Grupo Escolar. Inaugurado no ano anterior, o Grupo Escolar foi idealizado pelo Capitão José Alvim de Campos Bueno, o Nhô Bim, que não viu seu sonho realizado, dando, no entanto, seu nome ao empreendimento.
Foi seu filho, Major Juvenal Alvim, que concretizou a empreitada, doando inclusive o terreno para sua construção, daí a homenagem que recebeu. Em 1911, foi a vez do pintor Benedito Calixto receber a colaboração da sociedade civil para produzir as obras que mais tarde se tornariam ícones visuais de Atibaia, principalmente o quadro “Vista Panorâmica de Atibaia”, que retrata o contorno da Serra do Itapetinga com a Pedra Grande em destaque. Mais tarde, em 1935, uma grande campanha foi realizada para custear um busto do Dr. Miguel Vairo, que havia falecido recentemente. Dr. Miguel Vairo foi o primeiro prefeito de Atibaia, lembrando que antes de sua gestão o posto denominava-se Intendente. Seu apoio popular vinha do envolvimento que sempre teve com as entidades assistenciais de Atibaia, principalmente com a Santa Casa, na qual foi Provedor e Diretor Clínico por vários anos. No ano seguinte, além do busto, a praça em frente à Santa Casa ganhou seu nome como homenagem da Câmara Municipal. Em 1938, novamente, o Major Juvenal Alvim é homenageado através de subscrição. Desta vez, em razão de seu falecimento ocorrido dois anos antes. O Major Juvenal Alvim foi uma das personalidades públicas mais importantes de Atibaia, deixando um legado de feitos e ações que perduram até hoje, até mesmo na cultura, onde sua influência é pouco comentada. É dele a iniciativa de transformar o prédio abandonado pelo Juiz de Direito Antônio Bento (que seria a Santa Casa local) em um teatrinho, dividindo seu espaço com o Mercado Municipal.
É dele também a iniciativa da formação da banda musical 1° de Março e a existência do Cine República, iniciativas culturais de grande importância para o histórico cultural do município. Amado pelo povo, seu sepultamento foi um acontecimento social sem precedentes em Atibaia. A importância que teve para a cidade e seus habitantes foi traduzida na homenagem que recebeu: uma estátua colocada em praça pública, a única que retrata uma personalidade pública de Atibaia de corpo inteiro. A estátua, feita em tamanho natural, foi realizada pelo grande escultor atibaiano Yolando Malozzi, que já havia feito o busto de Miguel Vairo. Mais tarde, outras homenagens materializadas em objetos de arte foram feitas através do financiamento coletivo, práticas que garantiram belas peças para Atibaia, além de trabalho para os artistas da época.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.