Cinema de Atibaia sob nova direção
Márcio Zago
Em junho de 1915 o empresário Luiz Mana assumiu a direção do Teatro Popular e trocou o nome para Nordisk Cinema. Cinco meses depois uma nota no Atibaiense informava: “Com chave de ouro a empresa Luiz Mana & Cia fecha as portas do Nordisk, sob sua direção, com o último espetáculo em benefício das obras da igreja do Rosário exibindo “O Cesto do Papa Martin”, belíssima concepção dramática em seis longos atos desempenhando o principal papel o laureado ator italiano Novelli, tomando parte também a sublime atriz Gigette.
Com este espetáculo de hoje a empresa Luiz Mana & Cia faz entrega do teatro ao seu proprietário Sr. João Hilário, que continuará proporcionando ao público o mesmo gênero de diversão, sem alterações, a não ser a musica, que de ora em diante tocará a antiga Lyra Atibaiense, recentemente reorganizada com fortes elementos. É de esperar que o nosso público continue a prestar seu valioso auxílio ao esforçado conterrâneo Sr. João Hilário, digno de todo apoio”.
A obra da igreja do Rosário, citada no texto, dizia respeito àcampanha liderada pelo Padre Chico, recém-empossado vigário de Atibaia, que passou a promover uma intensa campanha visando à reforma da igreja do Rosário, que se encontrava em péssimas condições e prestes a ruir. Quanto ao acompanhamento musical, também anunciada no texto, informava que a Banda 24 de Maio, que substituía a orquestra Euterpe, do maestro Pedro de Vasconcelos,seria novamente trocada. Agora pela Lyra Atibaiense.
No mês seguinte O Atibaiense publicou outro informe: “Por acordo recíproco entre o Sr. João Hilário, proprietário do teatro, e os empresários Luiz Mana & Cia, ficou resolvida a continuação do contrato, o qual se prolongará até o fim do próximo ano, continuando tudo como era anteriormente (…)”. Como se nota, a crise causada pela primeira guerra mundial obrigava o setor cinematográfico local a malabarismos econômicos para manter-se ativo. Tarefa nada fácil, mas essa dificuldade não impediu que,no final do contrato com o proprietário João Hilário, os empresários da Luiz Mana & Cia adquirissem definitivamente o Nordisk Cinema. Quanto a seu concorrente, o Pavilhão Central, a situação também não era fácil. Seu empresário, Deoclides Freire, se esforçava para manter o público criando constantemente novos atrativos, como a formação de uma nova banda musical para sonorizar as fitas, ou promover campanhas populares, com descontos para crianças e mulheres. Mesmo assim em maio de 1917 foi anunciada a venda do Pavilhão Central para o Capitão Joaquim Florido.
O Capitão Joaquim Florido, o “Nhoquim Florido” como era chamado, foi um próspero fazendeiroque estava constantemente envolvido com a área cultural. Foi diretor da Banda Musical Lyra Atibaiense e diretor do Grupo Dramático José de Alencar, antes de embrenhar-se no ramo cinematográfico. Quanto ao arrojado empresárioDeoclides Freire, que teve papel fundamental na cinematografia local, depois de vender o cinema, desfez-se também do outro negocio que possuía: o Hotel Central, que passou a pertencer ao Sr. Claudino de Arruda. Deoclides Freire mudou-se para Santos, onde abriu a Pensão Atlântica. Em Atibaia, a crise que atravessava o setor logo passaria e a cidade ganharia outros cinemas para alegria de seus admiradores.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.