Cinemas em crise…
O primeiro a sentir seus efeitos foi o Palace Teatro que em março de 1914 tratou de, por certo tempo, reduzir pela metade o preço da entrada, mas a iniciativa do empresário Hilário de Vasconcelos não surtiu o efeito esperado.
Márcio Zago
No inicio do século XX a concorrência entre os dois cinemas existentes em Atibaia obrigava seus empresários a uma constante atualização. Tanto o Palace Teatro, como o Pavilhão Recreio Cinema, exibiam o que havia de mais atual na cinematografia da época. Tudo para cativar o pequenopúblico. Mas se havia qualidade na escolha dos filmes, não havia quantidade de espectadores… E logo a crise chegou.
O primeiro a sentir seus efeitos foi o Palace Teatro que em março de 1914 tratou de, por certo tempo, reduzir pela metade o preço da entrada, mas a iniciativa do empresário Hilário de Vasconcelos não surtiu o efeito esperado. As fitas que faziam grande sucesso na capital já não eram suficientes para atrair o público necessário para manutenção do espaço. A cidade começava a sentir as consequências da primeira guerra mundial. A insegurança do período (sentida também pela elite local), e a necessidade de informações sobre o que ocorria no mundo criaram as condições para o surgimento de um novo gênero: os jornais cinematográficos.
O primeiro cinema a trazer a novidade foi o próprio Palace Teatro que exibiu o “Echair Jornal número 15”, anunciada como uma interessante revista cinematográfica de atualidades mundiais. Os flagrantes de algumas cidades e demais acontecimentos já eram registrados pelo cinema desde seu início, gerando pouco depois o cinejornais que marcaram o surgimento do jornalismo cinematográfico, ação que rompeu como monopólio dos veículos impressos sobre as notícias. O francês Gabriel Kaiser foi um dos primeiros a fazer exibições semanais de atualidades em seu próprio cinema, em 1906.
A guerra, e a necessidade de informações a seu respeito, aceleraram o crescimento da linguagem. Os jornais cinematográficos viraram uma espécie de “janela para o mundo”, informando inclusive aos nãos alfabetizados. O cinemadeixou de ser somente diversão, mas também um importante veículo de informação e conhecimento.
Mesmo com mais este atrativo a crise no setor persistia. As apresentações teatrais, com grupos de amadores locais e de visitantes, também não garantiam mais a lotação esperada. Em agosto de 1914 surgiu a orquestra Euterpe, por iniciativa do maestro Pedro de Vasconcelos, que logo foi cooptado a integrar a programação do Palace Teatro, agora renomeado Teatro Popular. Era mais uma tentativa de atrair o público. Em dezembro uma nota do jornal O Atibaiense comunicava: “(…) Causaram grande sucesso os filmes passados em sessões corridas nas noites de 24 e 25 (dezembro de 1914), no Teatro Popular. Pena foi à concorrência de espectadores não corresponder aos esforços do empresário desta casa de diversões, que nada tem poupado para bem servir o público (…)”. No inicio de 1915 o Teatro Popular fecha suas portas por um mês, retornando em seguida com o “Pathé Jornal número 214”, prometendo as últimas novidades em relação aos acontecimentos mundiais, além das informações sobre esporte, moda etc.
Mais uma vez as atrações não foram suficientes para reverter a grave crise que atravessava os cinemas locais. Em abril de 1915 surgiu pela primeira vez um anúncio, também no Atibaiense, com o nome “Nordisk Cinema”, e não mais Teatro Popular, como estava sendo usado. A pequena nota incluía o nome do empresário Adhemar Bittencourt, e não mais de Hilário de Vasconcelos. Tudo levava a crer que, dezoito meses após sua inauguração, o Teatro Popular tinha sido vendido…
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.