O teatrinho e o cinema em Atibaia
Márcio Zago
Artigo que dá continuidade a história do teatro de Atibaia. No final de 1910 o teatrinho do mercado perdeu sua característica de espaço cênico e se transformou em espaço exibidor de filmes. As projeções cinematográficas tinham encantado os atibaianos desde 05 de julho de 1903, quando ocorreu,naquele mesmo lugar,a primeira apresentação pública na cidade. A partir daí o espaço passou a dividir as apresentações teatrais com as exibições cinematográficas, que chegavam à cidade através das companhias itinerantes.
O cinema era a grande novidade da época motivando o empresário Deoclides Freire a adquirir, logo em 1907, o primeiro projetor da cidade. Três anos depois, em companhia do amigo Alberto Correa de Oliveira montou a primeira companhia exibidora da cidade, a Oliveira & Freire. O local escolhido foi, mais uma vez,o teatrinho do mercado. As apresentações cênicas, nessa época,já não tinham a mesma pujança que teve anos atráscom o Grupo Dramático Carlos Gomes, extinto por volta de 1906.
O esvaziamento da cena teatral favoreceu a proposta dos empresários da Oliveira & Freire de alugar o teatrinho para utilizá-lo como cinema. E assim em novembro de 1910 surgiu o Recreio Cinema, o primeiro espaço exibidor de filmes de Atibaia, trazendo de volta as apresentações regulares que a classe abastada tanto gostava, só que agora não mais com o teatro.Aindanão era um cinema, mas tinhaessas características após a reforma realizada no prédio pelos novos inquilinos.
Embora as exibições cinematográficas fossem a prioridade, as apresentações teatrais nunca deixaram de acontecer, mas agora por iniciativa dos próprios empresários do Recreio Cinema que passaram a contratar cantores, atores, mágicos, dançarinos e demais profissionais do palco. Com o sucesso alcançado o teatrinho ficou pequeno e os empresários decidiram construir seu próprio espaço, surgindo em dezembro de 1911 o Pavilhão Recreio Cinema, o primeiro cinema de Atibaia. Tudo era novidade naquele inicio de século XX. A urbanização e o avanço tecnológico traziam muitas inovações para a pequena cidade de Atibaia e o empresário Deoclides Freire soube, como ninguém, tirar proveito dessa situação. Seu novo cinema, embora anunciado inicialmente como teatro, mantinha uma tendência que se repetia no país todo, onde as “casas de diversões” eramconstruídas de forma a manteras características de um teatro, com palco, camarim e demais acomodação para as apresentações cênicas, além da tela de exibição.
Com isso garantiam público para as duas linguagens. Possuindo agora um prédio próprio, os empresários da Oliveira & Freire devolveramo teatrinho do mercado para a Prefeiturae as apresentações cênicas, timidamente, voltaram a acontecer no espaço. Mas a situação não durou por muito tempo. Logo outros empresários repetiram a trilha aberta pelo arrojado Deoclides Freiree montarama segunda companhia exibidora da cidade, a Hilário & Saraiva, do empresário Hilário de Vasconcelos. A primeira ação da dupla foi alugar novamente o teatrinho do mercado, que neste momento já estava perfeitamente adaptado como cinema. E assim em outubro de 1912 teve inicio o segundo espaço de projeção cinematográfica da cidade, o Popular Cinema.
Não demorou e logo os novos empresários também abandonaram o teatrinhodo mercado após construir o próprio espaço, o Palace Theatre, o segundo cinema de Atibaia, inaugurado em agosto de 1913. A partir dessa data o teatrinho voltou a pertencer a população, mas quase nada ocorreu, nenhuma peça foi remontada. As noticias davam conta de que em breve o teatrinho deixaria de existir, cedendo seu espaço para a ampliação do Mercado Municipal. Uma pena! Assunto da próxima semana.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.