Os pequenos carregarão as consequências da pandemia por mais tempo
Wagner Casemiro
Em documento recente, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em parceria com o Unicef e o Itaú Social, apontou desigualdades e impactos da Covid na primeira infância, etapa que vai da gestação aos 6 anos de idade. No texto, com base em dados sólidos, aparece a constatação de que os pequenos não foram os que mais adoeceram ou perderam a vida pela doença, mas os que carregarão as consequências deste triste período por mais tempo. É o que apontou Cláudia Costin, diretora geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (FGV CEIPE), em artigo publicado pelo site FGV Notícias.
“Afinal, para crianças que estão nessa faixa de idade, tão suscetível a problemas de desenvolvimento físico e mental, mais de um terço de sua existência se passou sob a influência da fase pandêmica. Muitos viveram insegurança alimentar, dado o prolongado isolamento em casa e a crise econômica, falta de acesso a serviços de saúde e de educação, violência e questões relacionadas à saúde mental. De fato, houve no período não apenas o fechamento de creches e escolas por quase dois anos letivos inteiros como a não disponibilização, em boa parte dos municípios, de alimentos para os bebês e crianças em situação de vulnerabilidade”, lembrou a autora.
Segundo ela, é importante lembrar que, em muitos países que fecharam unidades escolares, refeitórios ficaram abertos para alimentar alunos mais pobres. Com a falta de ações coordenadas nessa direção, graves problemas de desenvolvimento podem ocorrer, inclusive anemia falciforme, que impacta a capacidade de aprender. “Mas houve outras consequências ligadas ao isolamento social, como retardos na fala, dificuldades de interação (o que levou a um aumento de suspeitas de autismo) e, no sentido econômico, fechamento definitivo de centros infantis privados ou comunitários, com a consequente demissão de professores. Muitos pais consideraram não fazer sentido continuar pagando por um serviço que não estava sendo ofertado (e nem teria como, no caso de creches) na forma remota”.
Na saúde, destaca-se a queda na cobertura das dez vacinas da primeira infância, inclusive BCG e poliomielite. Quando se põe em questão a segurança da vacina da Covid para as crianças, há impacto sobre a percepção dos pais a respeito de eventuais riscos das demais. “Entre os problemas apontados no relatório, dois merecem especial atenção. O grande aumento de órfãos da Covid e a desigualdade nos impactos vividos. As perdas dos pequenos foram importantes para todos, mas para os negros e indígenas, assim como a população de baixa renda, foram ainda maiores”, advertiu Costin.
“Em 2023, temos que avançar de forma determinada no combate a essas e outras consequências do inadequado enfrentamento da crise. Caso contrário, não teremos nenhuma forma de desenvolvimento inclusivo”. E isso é importante, seja qual for o presidente eleito neste 30 de outubro.
* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.
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