Série “Advogada Extraordinária” tem lições de mediação

A série “Advogada Extraordinária” (Netflix) tem ótimas lições de mediação. Ainda não vi todos os episódios, mas como boa parte do público adorei a produção sul-coreana, que conta a história de Woo Young Woo (Park Eun Bin), advogada de 27 anos com síndrome de autismo. Profissional excelente, com QI de 164, ela se formou como a melhor estudante de sua turma na prestigiada Universidade Nacional de Seul. Devido à inteligência e memória fotográfica, conseguiu trabalho em grande escritório de advocacia.
A personagem não se dá muito bem nas interações sociais, sofrendo com as imagens de “esquisita” ou “solitária”, além de ser alvo de bullying na escola. A série tem foco no crescimento de Young Woo como advogada e pessoa, enquanto ela conhece novas pessoas que farão a diferença em sua vida. Na série, o autismo a ajuda a encontrar soluções brilhantes para quebra-cabeças jurídicos, com sentido humanitário e sempre considerando o lado emocional e psicológico das pessoas envolvidas em grandes processos. Não são essas as virtudes esperadas normalmente dos advogados? Pois é.
Os três primeiros episódios demonstram igualmente suas qualidades de mediadora. Ela sabe ouvir, é eficiente ao elaborar relatórios e defende os clientes com argumentos sólidos, com respostas eficientes até mesmo para a parte contrária nos processos. Os advogados adversários geralmente a menosprezam até perceber a profundidade de seus argumentos, austeros do ponto de vista da lei, e terminam por reconhecer a precisão, o alcance e a articulação de suas estratégias de defesa. Mesmo quando uma cliente recua diante de um processo injusto (sem detalhes para não darmos spoiler), a personagem a acolhe e aprende com isso lições para a própria vida.
Outras características úteis para a mediação na série são a valorização do respeito mútuo e do código de convivência social. Quem não segue essas regras básicas, seja num escritório de advocacia ou numa redação de jornal, coloca-se fora da mesa de negociação. Para intermediar uma questão, um conflito e até mesmo uma guerra, os negociadores precisam ser leais, capazes de ouvir mais do que falar, cultivadores da inteligência emocional e seguidores do embasamento técnico seja qual for a legislação utilizada. Tais qualidades estão de sobra nesse sucesso cinematográfico.