Conscientização e políticas públicas podem conter desperdício alimentar

Wagner Casemiro

Milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar e, mesmo assim, desperdiçamos 27 milhões de toneladas de alimentos por ano, alerta o Jornal da USP em artigo de Rubens Avelar. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o desperdício de alimentos no mundo nos últimos anos poderia alimentar 1,26 bilhão de pessoas. No Brasil, ainda segundo a ONU, 33 milhões de pessoas se encontram em situação de insegurança alimentar.
Ao analisar esses dados, a professora, colaboradora e pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flasco/Brasil) e pós-doutora em Organizações e Sustentabilidade pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP São Paulo, Luciana Ziglio, destacou as múltiplas origens desse cenário para diminuir o desperdício e a insegurança alimentar. As principais causas desse desperdício estão associadas a três grandes cenários: no cultivo, na logística e no consumo. No cultivo, o problema já começa no tempo de armazenamento das sementes, que, se for muito longo, acarreta em perda considerável, e ainda no processo de plantio e colheita dos alimentos.
Na questão da logística, que envolve o transporte, o problema está nos centros de distribuição e nas feiras e supermercados. Perde-se no manuseio, no acondicionamento ou na movimentação dos alimentos. No consumo, a professora cita o desperdício durante o preparo e o manuseio dos alimentos e ainda na transformação em resíduos sólidos urbanos, material não considerado no processo de preparo e manuseio. Ao mesmo tempo, com base nos dados apresentados da Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU), 828 milhões de pessoas estiveram em condição de fome pelo relatório de 2020, aumento de 46% em relação ao relatório anterior, “cenário de falta de acesso, de insegurança alimentar e de fome no mundo. Portanto, é fundamental se pensar nas múltiplas origens do desperdício”.
As políticas públicas poderiam adotar “duas dimensões” para o combate ao desperdício: diversas organizações internacionais auxiliariam campanhas publicitárias e de divulgação; e seriam repassados recursos para outras formas de produção de alimentos, como na agricultura familiar, além de acesso a programas que deem prioridade ao direito à alimentação. A conscientização da população é fundamental nesse combate.

Foto/Canva