O desafio das fake news para os gestores de políticas públicas
O Brasil amarga baixa escolaridade e mais de 11 milhões de analfabetos.
Wagner Casemiro
Mais do que informar, os gestores de políticas públicas precisam combater a desinformação. Mas, afinal, quem diz a verdade? Em momento de pós-verdade, os fatos objetivos têm influência menor do que a emoção, a crença de cada pessoa e o círculo social. Espalham-se as chamadas fake news e as redes sociais acentuam o fenômeno ao propagar rapidamente mentiras e boatos. Segundo Leonardo Prudente (especialista em políticas públicas) e Mariella Oliveira-Costa (jornalista científica), que publicaram artigo no Nexo Jornal, “o descrédito nas instituições públicas parece favorecer que as pessoas privilegiem conteúdos recebidos de amigos, os quais são considerados fontes confiáveis, em detrimento de informações checadas e provenientes de pesquisa científica referendada. Em se tratando do Brasil, que amarga baixa escolaridade e mais de 11 milhões de analfabetos segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os efeitos das informações falsas são preocupantes, sobretudo no campo das políticas públicas”.
Os autores explicam que “as notícias falsas são informações completamente erradas, parcialmente verdadeiras ou corretas, porém descontextualizadas, e não se confundem com apuração jornalística ruim. Elas distorcem fatos, destroem reputações e negócios, reforçam pensamentos radicais, disseminam o ódio e a violência, levam as pessoas ao erro e modificam os rumos da sociedade. No campo das políticas públicas, as fake news impõem aos gestores públicos o desafio de combatê-las, zelando pela eficiência e pelas evidências científicas nas decisões públicas, mesmo que isso desagrade a determinados atores sociais. A cada dia, mais desinformação ganha status de verdade e é compartilhada em velocidade inversamente proporcional à da pesquisa científica, que tem seus tempos, prazos e procedimentos metodológicos específicos”.
Para desespero de alguns ou muitos, incontáveis teorias da conspiração pairam sobre as redes sociais, questionando sua origem e efeitos colaterais elaborados pelas mentes mais criativas e criminosas. De fato, a realidade da pandemia escalonou o problema das fake news. Na Europa, sobretudo no Reino Unido, conspirações responsabilizavam redes 5G pela disseminação do novo coronavírus, o que levou à queimada de dezenas de torres de telefonia celular. No Brasil, circulam receitas caseiras para se combater a covid-19: banhos de sol, lavagem das narinas, ingestão de bebidas quentes, chá de alho, café, enxaguante bucal, água a cada 15 minutos, álcool e até mesmo cocaína.
Esse cenário leva gestores de políticas a um novo desafio: não basta informar corretamente — é preciso combater a desinformação. Longe de demonizar as redes sociais e o maior acesso das pessoas à produção e ao compartilhamento de informações, os profissionais da gestão pública devem entender que há um inegável potencial de mobilização e de conscientização por meio das redes sociais. Com isso, podem pensar em como trabalhar com esses espaços a favor das pessoas, captando anseios, dúvidas, queixas e suas diferentes percepções sobre as políticas públicas.
Bons exemplos de enfrentamento do problema têm surgido no governo e fora dele. Ao mesmo tempo, a iniciativa privada toma atitudes. Os principais veículos de comunicação, por sua vez, investem em agências de verificação de fatos, dados e declarações. Por mais que existam instituições sólidas, são conduzidas por pessoas e seus interesses que, em alguma medida, podem reforçar a desinformação ou produzir falsa informação, revestida de chancela institucional e do aplauso dos grupos que se identificam. Em outras palavras, qualquer frase, defesa ou afirmação categórica, mesmo que falsa, quando dita por alguém com maior prestígio, poder político ou midiático, pode ganhar status de verdade simplesmente pela autoridade investida que a propaga.
* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.