Festas do Rosário
Márcio Zago
Até o final do século XIX três festas tinham grande destaque no calendário anual de Atibaia: A Festa de São Sebastião, que acontecia no dia 20 de janeiro; a Festa do padroeiro São João Batista, celebrado dia 24 de junho e as Festas do Rosário, festividades que ocorriam (e ocorrem) nos dias 25, 26, 27 e 28 de dezembro, finalizando no Dia de Reis, com a descida dos mastros. Todas já tiveram grande participação popular.
A denominação “Ciclo Natalino” em referência às Festas do Rosário é recente, o mais comum era designar, além de Festas do Rosário, Festas do Natal ou Festas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Nas duas primeiras décadas do século XX, período desta pesquisa, a Festa do Rosário já era vista com certo saudosismo pelos cronistas da época. Vários artigos do jornal “O Atibaiense” destacavam seu esmorecimento em relação aos anos anteriores, decadência que tinha reflexo na própria Igreja do Rosário, que se encontrava totalmente arruinada e prestes a ruir, não fosse à iniciativa do Vigário Francisco Rodrigues dos Santos, o Padre Chico, queprocedeu a sua imediata reforma assim que se estabeleceu na cidade. Isso em 1914.
A data coincide também com o inicio da primeira guerra mundial, que fatalmente refletia negativamente na situação geral do país. A festa sempre começou no dia 25 de dezembro com o levantamento dos mastros, num momento de grande comoção popular, anunciados pelo sino da igreja, pelos fogos de artifício epela intensa sonoridade das congadas. No dia 26 a tradicional cavalhada percorriam as ruas da cidade.
Denominada nessa época de “Encontro do Rei”, a manifestação tinha a função de achar o Rei, que era o festeiro daquele ano. No dia 27 e 28 a festa é marcada por missa e procissão, com destaque para o Reinado do dia 28, quando as congadas elaboram um festivo encontro entre os diferentes ternos.
Como não poderia deixar de ser, esta festividade centenária sofreu várias alterações ao longo do tempo.Waldomiro Franco da Silveira escreve em tom saudosista aquele período: “Como era solene a missa cantada! (…) O coro, sob a regência do velho e saudoso maestro Fonseca Ramos, enchia de melodiosos sons a igreja repleta de fiéis; as filhas do regente, D. Joana e D. Arminda emprestavam o valioso concurso de suas afinadas vozes, enquanto o professor Eugênio Toledo, com o seu violino completava a harmonia do conjunto coral. (…) Como era bonitas as procissões daquele tempo! Ao meio dia,Nho Albino, pela Irmandade do Santíssimo, e o Balduíno, pelo do Rosário, percorriam de ópa as ruas da cidade, tangendo cada um a sua campainha, com o fito de avisar os Irmãos das Irmandades que representavam, a se reunirem para a procissão; e mais solenes se tornavam quando a elas compareciam fardados e armados os respeitáveis membros da Guarda Nacional (…)”.
O Encontro e as congadas são as duas manifestações mais marcantes dessa festa e serão lembradas em artigos futuros, mas naquele inicio de século, outra figura marcante compunha os festejos: O Piti. “Natal sem a caixa do Peti não era Natal”, escreveu Waldomiro Franco da Silveira. “Como surgiu o Piti no cenário da vida atibaiana, a tocar caixa por ocasião do Natal? …Provavelmente de uma promessa feita em hora aflitiva e cumprida religiosamente durante o resto de sua vida. Em chegando o Natal até o Dia dos Santos (o Piti) sobraçava a sua querida caixa e saía pelas ruas da cidade tangendo-a ininterruptamente, chovesse ou fizesse sol…Com a morte do Piti extinguiu-se essa tradição que tanto contribuiu para alegrar, em nossa terra, o período do Natal”.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.