A telefonista de Perdões era estimada pelo seu dote de bondade
Nos primeiros anos do telefone, não se ligava diretamente a uma pessoa. A ligação tinha que ser pedida a uma telefonista, que fazia a conexão. Sentadas em suas mesas telefônicas, entre um emaranhado de fios e botões, essas profissionais tinham que ser discretas, pacientes e educadas. Uma das regras era não interferir nas ligações. Recebiam treinamento para repetir frases curtas e padronizadas como “número, por favor?”.
A profissão surgiu nos Estados Unidos nas últimas sécadas do século XIX. Na região de Atibaia, nos anos 60 do século XX, a atividade continuava sendo importante, como é possível constatar em consulta ao arquivo do jornal O Atibaiense. No dia 15 de agosto de 1964, o jornal publicou uma nota, na coluna Notícias de Perdões, assinada pelo correspondente Vicente de Almeida Passos, em que a importância da telefonista ficava muito clara. O colunista começava com pêsames e a nota dizia assim, num estilo que nos provoca saudade:
“A nossa cidade de Bom Jesus dos Perdões foi no passado dia 10 fortemente abalada com a triste notícia que às 9 horas mais ou menos correu pelas ruas da cidade. Morreu a nossa Telefonista.
D. Maria de Lourdes Cardoso era estimada em nossa terra pelo seu dote de bondade e seu fino tratamento conquistava todos os corações. Pontual no seu serviço, a todos ela atendia sempre alegre e jovial.
Do primeiro casamento com o finado João Correia Dias, deixa 5 filhos todos maiores. Do segundo casamento deixa viúvo o sr. Joaquim Cardoso, aposentado da Prefeitura, e uma filha menor.
Seu sepultamento deu-se no dia 11 com extraordinário acompanhamento, sendo seu corpo encomendado no Santuário pelo nosso Vigário Padre Bonilha, que acompanhou até o Cemitério, onde a numerosa assistência disse seu último adeus a D. Lourdes, como ela era conhecida.
Ao encerrar esta notícia, o correspondente local d’OAtibaiense apresenta seu pesar à família enlutada”.
D. Lourdes é a avó do Dr. Rogério Correia Dias, juiz de Direito em Atibaia e professor da UNIFAAT. Ele comentou que guardava, como “relíquia” de família, uma página daquela edição do jornal, e inspirou em nossa redação esta viagem no tempo. Fomos ao arquivo e pegamos a encadernação do ano 1964. E lá estava a notícia.
Ainda dá vontade de dizer: alô, telefonista? Antes de entrarem em cena recursos como os códigos de área e prefixos, era só dizer “quero falar com fulano” e deixar o resto por conta dela. A era das telefonistas terminou com a invenção da discagem direta e da ligação automática. Já no final dos anos 60, as telefonistas passaram a cuidar exclusivamente de serviços especiais, por exemplo, o de auxílio à lista. Essa mudança se configurou no Brasil nos anos 80. Com a disseminação do celular, na partir dos anos 90, uma nova era se abriu.