A Festa das Brotas e as chuvas
A festa tinha, entre outras, a função de agradecer e renovar os pedidos de milagres realizados pela Santa.
Marcio Zago
No inicio do século XX a festa do bairro das Brotas já era bastante conhecida em toda região. As celebrações eram precedidas pela novena que finalizava na véspera da festa, dia 07 de setembro. Neste dia a capelinha das Brotas já recebia seus devotos, enquanto outros pernoitavam pelo local finalizando os preparativos para a grande festa que aconteceria no dia seguinte. No jornal “O Atibaiense” de 1902 uma matéria chama a atenção para a “grande movimentação de romeiros que seguem para aquela capela, havendo grande quantidade de botequins, cafés etc”.
A organização da festa se dava através do zelador da capela, que estabelecia a taxa de contribuição para quem desejasse estabelecer “botequins” no local. O dinheiro arrecadado era destinadoà manutenção da capela. Localizada no antigo bairro do Caioçara, uma das primeiras regiões demarcadas pelas sesmarias no inicio da colonização, o Bairro das Brotas passou a ser conhecido dessa forma por volta de 1.800, após a construção de uma capelinha que, segundo informações colhidas por João Batista Conti, foi realizada pelos escravizados em tempos remotos. Sua Santa de devoção era Nossa Senhora da Conceição, venerada em Atibaia sob a invocação de Nossa Senhora das Brotas.
A festa tinha, entre outras, a função de agradecer e renovar os pedidos de milagres realizados pela Santa. Sua especialidade: fazer chover. A festa coincidia com o período do inicio das plantações e sem ela os devotos acreditavam que esse fenômeno não aconteceria. Era uma festa, portanto, eminentemente rural e popular, onde o sagrado e o profano conviviam em perfeita harmonia. Mais que um ato religioso era um evento social. Na programação missa rezada, procissão, ladainha com música, leilões, apresentações de grupos populares, etc. Nos primeiros anos do século XX iluminar a capela fazia parte dos atrativos da festa, assim como a presença da banda de música do Maestro Juvêncio Fonseca. É bom lembrar que a luz elétrica só chegou a Atibaia em 1907, portanto a iluminação da capela se dava através de lampiões a querosene ou pelos experimentos do empresário Ettore Carrieri, que desenvolvia testes na cidade com lamparinas de acetileno.
Outro fato interessante deste período eram as notícias em relação à repressão aos jogos de azar. A repressão a jogatina eram exaltados pelas páginas dos jornais, chamando a atenção para a necessidade das autoridades policiaisacabarem com esse “maléfico vírus, pior que a peste bubônica” que destruía a vida dos incautos. O artigo se referia a um comércio existente na Rua José Alvim. Na Festa das Brotas não era diferente. Em 1902 o jornal publicava: “Parece-nos que só não haverá o joguinho porque a nossa policia a ele se opõe”. Em 1903 outra noticia: “O que convém à nossa policia é largar mão da supressão do joguinho, pois sem isso se torna monótono.
Ponha impostos bem altos, mas feche os olhos, como faz a policia em São Paulo quanto a Penha”. Em 1904 as noticias continuam: “Durante a noite de 7para 8 houveram alguns ensaios do jogos de búzios e pequenos rolos que foram abafados pela policia”. Segundo as crenças da época o milagre de Nossa Senhora das Brotas só aconteceria se sua imagem fosse transportada para a igreja da cidade. Para tanto a Santa era acomodada no andor e seguia em procissão a pé até a cidade. Esse trajeto era acompanhado de rezas e rojões. Na cidade, recebido por inúmeros fiéis, o cortejo dava uma volta pelas principais ruas da cidade até a Igreja da Matriz, onde a Santa era depositada e assim permanecia até ser novamente transportada de volta a sua capela de origem.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.