As festas do aniversário da cidade e do Divino Espírito Santo
Marcio Zago
Dia 24 de junho é a data comemorativa ao aniversário de Atibaia e marca a primeira missa rezada pelo Padre Matheus Nunes de Siqueira no local. Comemora-se também o nascimento de seu padroeiro, São João Batista, que na fé cristã compõe a celebração dos chamados Santos Populares (Santo António, São Pedro e São João). No dia seguinte, 25 de junho,comemorava-se a Festa do Divino Espírito Santo, que tem origem católica e faz parte das comemorações do Pentecostes.
Em Atibaia as festividades que compunham estas duas datas sempre tiveram grande brilho e participação popular nos tempos de outrora.No livro “Atibaia Folclórica”, João Batista Conti lembra que antigamente não havia luz elétrica na cidade, fato que imprimia uma característica muito peculiar às festas. Sem luz, as noites de Atibaia eram tristes e vazias.
Um artigo do jornal “O Atibaiense”, de 1903, relata um entrevero ocorrido por conta dessa excessiva escuridão. Narra que duas pessoas voltavam de uma reza e passavam em frente ao casarão da família Ferraz, onde outras duas pessoas se achavam assentadas na porta. Um dos transeuntes riscou um fósforo a fim de identifica-los. A inspeção custou ofensas pessoais, guarda-chuvadas e ferimentos a faca. Não é difícil imaginar,nesse contexto, o que representava as festas para o pequeno aglomerado urbano, quando a escuridão reinante era quebrada pela luminosidade das fogueiras, lanternas, balões e fogos de artifício.
As festas aglutinavamos habitantes das diversas regiões, mas principalmente os oriundos da zona rural, cotidianamente limitados em seu tempo pela inexorável luz do sol. As festas representavam dias de alegrias, de rupturas do cotidiano. Fogos, barulhos e explosões de luzes enchiam de calor as noites frias da cidade. Não era a toa que os profissionais da pirotecnia gozassem de tanto prestígio na época. A claridade,no contexto da festa,tinha uma importância tão grande que havia até uma lei municipal que dizia “ser obrigatório aos proprietários e inquilinos desta cidade a iluminação da frente de suas casas nas noites de 23 de junho e 24 de dezembro de cada ano e mais quando a Câmara determinar”. Essa lei deixou de fazer efeito quando a partir de 25 de dezembro de 1907, Atibaia passou a contar com a luz elétrica. A iluminação artificial passou então a ser incluído com destaque nos programas das festas dos anos seguintes, como uma atração a mais. Compunha a programação as missas, procissões, leilões, banda de música, divertimentos públicos como corridas em cavalos de pau, para os adultos “barbativos” (?), corridas de sacos, pau de sebo, porquinho ensebado, ganso enforcado e percorrendo as ruas da cidade o “bando precatório” (pessoas que pediam ajuda financeira para a igreja batendo de casa em casa). Os fogos de artifício e os balões eram o destaque da festa.
Em 1908 a programação incluía uma “estrondosa e alarmante alvorada com salva de 21 tiros, girândolas e grande profusão de foguetes de bomba real”. Dizia ainda que depois do “leilão das prendas, durante o qual será servido aos assistentes um profuso e delicioso copo de água, deverão subir aos ares os seguintes balões: Balão em honra ao Divino Espirito Santo, contendo inscrições e emblemas tendo a altura de 10 metros; Balão em honra aos festeiros e ao povo de Atibaia contendo inscrições e alegorias com altura de 10 metros; Balão Jardineira, com 10 metros de altura; Balão Santos Dumont, com 8 metros de altura… e a cada meia hora um balão subirá aos ares, até a meia noite. Todos levarão à cauda fogos de vista”.A banda do maestro Juvêncio Fonseca completava a festa… Mas o tempo passou. Nos anos cinquenta a festa já havia se esvaziado por completo.
Hoje restaram as comemorações do dia 24 de junho, que após os anos setenta, ganharam novo significado. Perdeu-se o protagonismo popular e intensificou-se o valor cívico, institucional e político da festa, representado pelos desfiles das escolas,fanfarras, organizações sociais e militares.
Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.