Uma breve história de Atibaia – A fundação de Atibaia
por Renato Zanoni (in memorian)
Num tropel de cavalo chegou um índio no terreiro da casa grande. Ofegante, avisou Jerônimo de Camargo da chegada de uma bandeira religiosa. Mandando encilhar um animal saiu Jerônimo ao encontro dos chegantes. Com sua figura imponente atravessou aquele exército de indígenas, até o Padre que estava acompanhado do Morubixaba, todo enfeitado de penas. Desmontando, Jerônimo pede a benção do Padre, seu já conhecido.
Com boa acolhida a bandeira segue até a colina, por ladeira íngreme e a convite de Jerônimo, ali acampam. Assados, refrescos e frutas são trazidas ao Padre pelas escravas mucamas de Ana de Cerqueira. Jerônimo não quis tantos índios ao redor de sua casa, mas preparou ranchos no outro lado da colina, onde uma trilha descia até as margens do Rio Atibaia. Foram caçados na Serra, pacas, veados e caetetus, para festejar a comitiva. Mantas de toucinho e açúcar foram presenteados ao Padre e os índios pescaram tabaranas no rio.
Jerônimo hospedou o Padre por vários dias, até que se recuperasse da estirada pelas matas. Estavam em meados de junho do ano de 1665, quando os dias eram ensolarados e os ventos ululavam nas madrugadas. A maior parte dos índios que acompanharam o Padre voltou para a aldeia. Outros que queriam seguir com a bandeira já se mostravam inquietos. Chegava a hora de partir.
O Padre Matheus foi se despedir da família de Jerônimo, mas o bandeirante não o deixou partir, antes de ser celebrada uma missa. Enquanto preparavam um grande Cruzeiro para que o Padre celebrasse ao pé, na casa grande, se preparava uma boa partida de provisão de boca, para que levassem na bandeira.
Jerônimo escolheu a manhã do dia de São João, 24 de junho, para a celebração da Primeira Missa. Cercado de indígenas, a céu aberto o Padre ministrou o sacramento aos batizados.
Alguns dias depois a bandeira partiu em busca das tribos que viviam na imensidão das minas, nas chamadas Gerais, nas lavras e no Rio das Mortes. Ficaram em ranchos ao redor da cruz, alguns brancos que desistiram de enfrentar o sertão tenebroso.