Na era do celular, atenção está reduzida a 8 segundos
Faz tempo que ouço a psicologia apontar problemas como a dificuldade de atenção e os problemas de aprendizagem. Na era do celular, a situação se massificou e se agravou. Resultado: a flutuação da atenção, drama para professores e palestrantes mas também para jornalistas, tornou-se o principal obstáculo da comunicação. Como segurar a mente de 40 alunos na sala de aula? Como fazer o leitor começar este artigo e ir até o fim?
Não por acaso, encontramos títulos assim na internet: “Tecnologia deixa humanos com atenção mais curta que de peixinho dourado, diz pesquisa”. Até o peixinho dourado ganha da gente, que ridículo! A tal pesquisa foi realizada pela Microsoft e sugere que o tempo de atenção dos seres humanos (8 segundos) já é mais curto que o desses peixinhos dourados (9 segundos) – e isso pode ser culpa da tecnologia.
A pesquisa foi feita no Canadá e envolveu 2 mil pessoas que responderam a perguntas e participaram de jogos online para avaliar sua capacidade de concentração. Os pesquisadores também realizaram exames de eletroencefalogramas em outros 112 voluntários canadenses para monitorar sua atividade cerebral. Segundo a conclusão da pesquisa, a capacidade de concentração dos humanos está sendo reduzida por impacto dos dispositivos portáteis e das mídias digitais.
No ano 2000, a capacidade de atenção humana era, em média, de 12 segundos. Em 2013, esta capacidade caiu para oito segundos. A notícia tranquilizadora dada pelos pesquisadores é que nossos cérebros podem estar se adaptando às novas tecnologias – e uma capacidade de atenção mais curta pode ser simplesmente um efeito colateral normal.
O jornal El País entrevistou Bruno Patino, que lançou o ensaio La Civilisation du Poisson Rouge (“a civilização do peixe-vermelho”, inédito no Brasil), em que adverte para os perigos desse alarmante déficit de concentração. É a praga da sociedade moderna provocada pelos gigantes da Internet com sua perpétua difusão de links, imagens, likes, retuítes e outros estímulos para nosso sistema nervoso.
“O modelo de negócio das plataformas se baseia na publicidade, e sua eficácia depende do tempo que o usuário passe nelas. As redes se tornaram predadoras do nosso tempo”, afirmou Patino, que calcula em 10 segundos o máximo atual de concentração humana. “Milhões de pessoas já são incapazes de se desconectarem, de deixar de lado a tela 24 horas. Nós nos tornamos dependentes e inclusive viciados”. O que fazer?