Uma breve história de Atibaia – Conflitos na Vila de São Paulo
por Renato Zanoni
Alberto Pires era um homem bruto e teimoso. O amor, que enobrece a alma, tem seus caprichos. Alberto se apaixonara por Leonor de Camargo Cabral, da família antagônica, e se casaram. Nos serões de sua família, Leonor tinha por hábito de escarnecer dos Pires, no que todos os Camargo concordavam. Alguma comadre, ou escrava, ou índia da casa, quem sabe, levava para Alberto, os mexericos. A cabeça dele fervia.
Em 1652 a supremacia da Câmara coube aos Camargo. Aos Pires, sobrava a atmosfera de desagrado. Esperando os feitos futuros da Câmara, os Pires faziam ameaças. As promessas mútuas de paz entre as duas famílias pareciam fenecer a cada dia que passava.
No dia do Entrudo, na Vila de São Paulo, tudo parecia alegria, por vezes marota. Trazia alguns momentos uma trégua às rivalidades das duas famílias. A madrugada deu lugar à quietude. Eis que, o sono da Vila foi perturbado por vozerio e vai-e-vem de povo a espalhar terrível notícia. Alberto Pires havia assassinado sua mulher, Leonor e mais um cidadão da família Pedroso.
Leonor espelhava em tudo a mulher correta e religiosa, então, a Vila toda a inocentou da acusação de adultério, imposta pelo marido. Acreditaram, ao acontecido, uma armadilha do marido. A verdadeira razão do tirano ato era desgraçar a família Camargo.
Terminada a missa de réquiem pela alma de Leonor, os Camargo, arrearam animais e bem armados demandaram à chácara onde morava a mãe do homicida. Inês Monteiro, conhecida como a Matrona, liderava as escaramuças vingativas dos Pires, e ali escondia o filho.
Os capangas esperavam armados à represália, assim como os escravos fiéis. Dentro da paliçada da chácara moravam centenas de indígenas solidários ao mando da Matrona.
Os Camargo vinham preparados, com trabucos e capangas desvairados. Índios sequiosos para a luta. Índios entediados com a tarefa de ir buscar água na bica e arrear bestas vieram à luta.
A Matrona era astuta e corajosa. Saiu no terreiro, humilde e cediça com um grande Crucifixo na mão pedindo clemência para o filho.